Ora bolas... e estava o dia a correr tão bem. Trolha mais uma vez, lixa, massa e pladour, caixilhos e borrifadores, poeira e acidentes de percurso e riso. Lisboa entardecendo sobre o rio, o toque dos azulejos, a carícia da luz, a companhia-irmão-trolha, olho vivo e alma aberta, conversa boa que faz desaparecer o trânsito e perspectivar a estrada. E quando estou mesmo a chegar já prevendo a peregrinação em busca de estacionamento neste bairro tão colonizado, o reflexo que tarda por uma fracção de segundo, como todos os que tardam demais, e o engulho no asfalto, o pneu que atropela e estala e esmaga sob a inacção gelada das minhas mãos. Mas que merda! O sacana do pombo doente não estava bem onde estava de manhã, aninhado à beira do passeio?!! Não se mexe não se mexe, e vai-se a ver agora está praticamente no meio da rua escura e de noite todos os pombos são pardos.
Arranjei lugar à porta. Tenho três explicações metafísicas para o facto. O karma não é, definitivamente, instantâneo, e what goes around comes around... later. Ou, o karma é instantâneo e eu não fiz mais do que dar o golpe de misericórdia num ser em sofrimento há já umas quantas horas, e o meu prémio foi um lugar à larga, à porta, numa zona onde o próprio Buda vociferaria por uma vespa. Ou ainda, o karma é mesmo instantâneo e neste momento alguém está a tratar de um belo galo na cabeça, por se ter armado em deus ex-machina e posto o desgraçado do bicho ali à mão de ser eutanasiado.
sexta-feira, setembro 26, 2008
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