quarta-feira, julho 11, 2007

O bibelô

Mais uma rav'ormance no São Luiz, ainda com o alaúde do Khalil nos ouvidos. Numa danceteria, dança-se. De quando em quando lá se faz um esforço para trocar umas quantas palavras. Às vezes dá jeito, se permite que nos alapemos a um pescoço apetitoso com a desculpa certeira da necessidade de falar junto ao ouvido. O problema é que nem sempre dá jeito aos dois lados da conversa. Estou eu a acabar de cumprimentar um simpático e talentoso trombonista, aparece um cromo de polo azul-cueca e garina a tiracolo, que vem dizer olá à mesma pessoa. Dizem-me mais tarde que é um pseudo-compositor. Eu diria mais que é pseudo-gente, mas passemos ao discurso directo, que é mais simples.
- Então, estás bom, pá? E quem é esta mulher linda que está aqui ao teu lado? Olá, estás boa? [começa a avançar género bulldozer] Tens um aspecto muita giro, [os braços, seguríssimos de serem bem-vindos, aproveitam a proximidade obrigatória para rodearem a minha cintura e subirem pelas costas e fazerem festinhas e etc e etc],como é que te chamas?
[entretanto estou boquiaberta com tanto abuso, e respondo enquanto me liberto]
- Estás a falar comigo?
[as mãos não descolam, estás aqui estás a levar um soco, ai se a festa não fosse de um amigo, cabrão...]
- Sim, estou, és muita gira, sabias? Temos de ir jantar uma noite destas, o que é que achas?
- Eu acho que não.
- Porquê?
- Porque não me conheces de parte nenhuma e estás armado em galifão a amassar-me toda e eu não gosto disso.
[o braço esquerdo circunda-me os ombros]
- Não fiques nervosa, não é preciso ficares nervosa.
[o indicador direito brinca com a ponta do meu nariz... e uma dentada? uma cabeçada? uma galheta bem dada? não, controla-te, e maldita a hora em que começaste a fazer ioga e decidiste que a violência é inútil]
- Vai beber mais uma imperial, vai...
[e a lapa não deslapa]
- Olha que já bebi bastantes.
[liberto-me quase violentamente e ele finalmente recua; desta vez sou eu que o sigo e lhe chego ao ouvido]
- Acredito, mas ainda não estás em coma, ainda não bebeste o suficiente.

A garina a tiracolo? Ficou a assistir de camarote, nem percebi com que expressão. O macacóide não sei se ficou a perceber a diferença entre uma mulher e uma boneca de pipo com uma auto-estima tão merdosa que se derrete para o primeiro bêbedo que lhe diz que ela tem um aspecto muita giro. Eu é que para bibelô já dei.

6 comentários:

João Barbosa disse...

ganda cena!
o gajo era um troglodita...

K. disse...

Que anormal... bem, essa tua última frase merecia um prémio. :D

Laranja disse...

Blaaaaaargh!
Eu cá tinha-lhe dado um soco.

Raquel Alão disse...

Eheheh... Um pontapé era realmente merecido. No alcolizado traseiro...


Que palhaço...

pedro efe disse...

raquel, acho que no painel frontal era mais eficaz... ;)

Raquel Alão disse...

:-D

Com o discurso do "pólo azul-cueca" estou desconfiada de que a busca do X no painel frontal ia levar muito tempo... Era preciso um mapa...