terça-feira, fevereiro 13, 2007

As mulheres simbólicas

Continuo em guerra com o vírus. Está difícil, mas ainda não comecei a carcarejar e estou descansada porque até agora nenhum papagaio morreu em Londres, por enquanto ficam-se pelos perús. A vantagem de viver no centro é que quando aparece uma irmã em ressaca de um concerto+um referendo+um exame=desejos de sushi, a viagem necessária pode ficar-se pelos três minutos a pé, até ao bar do Japa, com a sua porta de vidro aberta sobre a praça. Ainda assim o suficiente para levar com o sol na cara e alimentar a alma enquanto se adoece mais um pouco o corpo. No meio da conversa algo insólito me chama o olhar: um homem carregado de sacos corre, tentando escapar-se à mulher que o persegue e que lhe acerta várias vezes com a mala de mão na cabeça. Começo a rir e apresso-me até à porta, tentando descortinar se se trata de um assalto, se é preciso algum tipo de ajuda, enfim, o comum. O homem sentado do outro lado do bar sai entretanto do restaurante, correndo, com o mesmo objectivo, e regressa tranquilizando-me, está tudo sob controlo. A dita mulher surge novamente no écran de vidro que abre para a rua, descabelada mas sorridente, e junta-se às duas que ao meu lado a esperavam e que se apercebem surpreendidas de que era dela que falávamos. Nenhum assalto, diz ela, ainda atarantada mas bem-humorada. Apenas um anormal de um flasher, que só a assediou a ela depois de ter feito o mesmo a uma criança. Não foi mulher para se resignar ao papel de vítima revoltada. Que importa se a viram a correr descomposta, de saco em riste, numa zona tão fina onde as caras típicas encaram o dia seguinte ao SIM - e o meu óbvio e aliviado sorriso - com uma expressão sisuda de quem é credor de todo um mundo de caloteiros morais? A mulher da mala de mão tornou-se, sem que o soubesse, o meu ícone de dia 12 de Fevereiro. Não se ficou, fez-se à calçada e desfez a ofensa com as suas próprias mãos. Não chorou por ajuda; nem gritou "ai, toma, bandido!".

3 comentários:

Anónimo disse...

O «ai toma, bandido!» é muito bom! Melhoras, linda (se quiseres a canja de galinha, já sabes!);)

Raquel Alão disse...

As melhoras! :-)


Que estória deliciosa!

pedro efe disse...

:-)
as melhoras.