quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Só mais uma coisinha.

A não perder, este post da Joana Amaral Dias. E a pensar seriamente no papel do estado na prevenção da SIDA. E na estupidez. E na cegueira moralista e perigosa. E no machismo entranhado neste paízeco. Até Março, malta!
Un'altra volta!


Santa Maria degli Angeli e dei Martiri, Roma
Outubro de 2005


A dopo, carissimi!
Pessoas de bem

Na antena aberta da RDP discute-se a corrupção. Um ouvinte de bom coração deplora a lentidão da justiça que faz com que pessoas de bem como o senhor Fontão, a senhora Seara ou o presidente Carmona estejam tanto tempo sob suspeita. Sim, porque já se sabe como é o portuguesinho, um suspeito é culpado até prova em contrário, e não pode ser, coitados, quem é que depois lhes limpa o nome? Sobretudo, acrescentaria eu, ao primeiro, que escondeu de toda a gente, com a cumplicidade do presidente da câmara, a sua situação de arguido, coitado, com certeza já com medo de ser injuriado por algum vagabundo em plena praça do município.

Logo a seguir, o tom democrático da prédica à boa-fé dá lugar à voz encrespada da revoltazinha mesquinha e comezinha. Então e os outros, os da esquerda? Não foram eles que começaram esta ligação com a Bragaparques? O Sampaio e o Soares, não vão ser chamados a depôr, não vão ser constituídos arguidos? Porque a origem do problema, sem dúvida nenhuma, são eles.

...


É triste, mas é a atitude banal. O que incomoda este senhor cujo o coração chora por Fontão de Carvalho não é o julgamento sumário e de má-fé em praça pública. O que o chateia mesmo é que a justiça faça o seu trabalho, que, carago, para a difamação pura e simples este espécimen de zé povinho terá sempre a antena aberta ou o balcão lá da tasca onde o presidente da câmara bebe um copo de três todos os dias antes de ir acomodar o seu saco azul no contador do gabinete.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Dizem-me que o Salazar foi um bom gestor...

Ponham os olhos nele, meninos dos cursos de gestão e economia, e atenção às perdas de tempo, ao imenso desperdício de tempo que são os anos de faculdade, mesmo com Bolonha. Estão a ser enganados, 'taditos. Pois que afinal, quantas horas lectivas são necessárias para aprender a descoser e voltar a coser um colchão?

terça-feira, fevereiro 20, 2007

A verruga de Marilyn

O vírus veio como foi. Entre crono-extremos o tempo foi igual, leitoso, um dia depois do mesmo dia. Não avisou que vinha, comeu o que queria, não informou que ia. Uma gripe. Atípica, de repentes. Mas finda, finalmente extinta. Deixou um rasto. Ela pensava que era um rasto particular… enfim, este início é o fim de um ano difícil, e há impertinências cutâneas que se sentem mesmo como um expulsar de tudo o que de tóxico nunca deveria ter assentado morada. Nada como uma excrescência que alivia para sentir que as últimas toxinas foram finalmente expulsas, a zona de poluição concentrada que se alisa, a casa podre que se recupera, a mente confusa que desmiola um caminho e deixa subitamente de andar em círculos. Nada, ora. Pequenas novelas que desenrolamos para dar um sentido à história que em brasas fazemos sem compreender como.

Era só dela, o rasto, nem pensara nisso assim, mas assim se sentia. Olha, a Rute também tem um treçolho. Ficou-lhe do fim da gripe, como o teu. Mensageiro da banalidade… mas estava bem-disposta, e nesse dia soou-lhe a mensagem de solidariedade feminina. Mulheres deste mundo doente, expulsai tudo o que vos turva a alma. Parece que o Ricardo também, há três semanas que anda com o olho num enredo. Mau.

Epidemia. Tem um nome de código e um nomis vulgaris, nada que acrescente. Dizem os jornais que se transmite entre gatos domésticos que nunca se encontraram, passa para os donos, assenta em mulheres grávidas, tomou conta de olhos direitos sem conta, criou toda uma nova estética ocular à qual até a publicidade teve de adaptar-se. Muitos homens lhe fogem, traço feminino que se impôs logo ao nascer da epidemia e se sublinhou com a notória preferência por gestantes; machos feridos no olho do orgulho tentam escondê-lo, disfarçá-lo, cobri-lo, espremê-lo. As mulheres foram cercadas, no entanto, e forçadas à adaptação regressaram às capas das revistas, aos anúncios de cremes anti-rugas – mas não anti-verrugas –, aos reclames das sopas de pacote. E as malfadadas que se escaparam ao padecimento pintam agora tristemente a verrugazinha no canto do olho direito em desespero de causa, que já ninguém se lembra dos lábios de Marilyn.

domingo, fevereiro 18, 2007

Estão a gozar com a minha cara...

Eu ouvi bem, ou na RTPN acabou de se dizer que os estudos apontam para que o custo de uma IVG para o Estado seja de mais de oitocentos euros se for aborto medicamente induzido, mais de mil se se tratar de aborto cirúrgico? Eu bem sei que o que paguei na Clínica dos Arcos, e foi metade, e era uma clínica privada, que nos hospitais públicos espanhóis o preço é metade dessa metade. Eu devo ter cera a mais nos ouvidos, é o que é. Ou o gajo que fez as contas aqui em Portugal é o mesmo que inventou os cartazes a ameaçar com os impostos a favor do aborto.

Mas é agora que se tira a teima das razões de cada trincheira. Oiço falar em aconselhamento obrigatório, em surreais comissões de ética, em persuasão, e continuo a ver uma mulher-criança, sentada numa monstruosa cadeira frente a uma secretária cheia de adultos. No fundo, e agora nota-se bem, estamos a discutir quem é que manda aqui. Na minha barriga.
Redenção, utopia e fetiches

Só para dizer que me revejo bastante neste post do Nuno Ramos de Almeida, salvaguardando a bagagem teórica que nos separa [eu levo sobretudo bagagem de mão, confesso]. E que aguardo impaciente o debate que se anuncia para a caixa de comentários. A seguir, atentamente.

sábado, fevereiro 17, 2007

Aos trambolhões... hasta quando?





post dedicado ao Daniel Oliveira [desculpem lá, mas depois das coisas que lhe li durante a campanha para o referendo, vai demorar um bocado até me passar o coup de foudre]

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Porque o Brasil é mesmo aqui ao lado.

Convoco todos a lutar para impedirmos um desastre. Imaginem um lugar onde se pode ler gratuitamente as obras de Machado de Assis, ou A Divina Comédia, ou ter acesso às melhores historinhas infantis de todos os tempos.

Um lugar que lhe mostrasse as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci.
Onde você pudesse escutar músicas em MP3 de alta qualidade.

Pois esse Lugar existe! O Ministério da Educação disponibiliza tudo isso,
basta acessar o site:

www.dominiopublico.gov.br.

Só de literatura portuguesa são 732 obras!

Estamos em vias de perder tudo isso, pois vão desativar o projeto por desuso, já que o número de acesso é muito pequeno. Vamos tentar reverter esta desgraça, divulgando e incentivando amigos, parentes e conhecidos, a utilizarem essa fantástica ferramenta de disseminação da cultura e do gosto pela leitura.


Divulguem para o máximo de pessoas, por favor.


recebido por e-mail
Olha que boa pergunta!...

um médico que declare objecção de consciência a fazer abortos no SNS poderá fazê-los (embora profundamente desgostoso) numa clínica privada?
só estou a perguntar.



Grande Animal! Eu por acaso também tinha alguma - poucachinha, claro - curiosidade em saber a resposta...
Bom, lá vou ter de passar a comprar o El País...

Demitida direcção do Diário de Notícias.


E é verdade o que já ouvi, que vão soltar sobre o DN a lixeira do Correio da Manhã? Contra-ataque furioso pós-resultado do referendo? Um jornal imparcial num país que se quer quasi-redil é coisa assustadora, deveras. E é preciso começar a punir todos os que não colaboraram na cruzada obscurantista da campanha contra a despenalização da IVG. Diz que há uma passagem na Bíblia que fala em "olho por olho". É na tal parte gore da cena.
Quem diria, hã?

You know the Bible 75%!
 

Wow! You are truly a student of the Bible! Some of the questions were difficult, but they didn't slow you down! You know the books, the characters, the events . . . Very impressive!

Ultimate Bible Quiz
Create MySpace Quizzes


visto no Diário Ateísta


Ok, não bato o João Vasco, que se revelou um verdadeiro teólogo, eheheh. Mas sim, fui maluca em tempos para tentar ler a Bíblia de fio a pavio; adorei o filme gore, que não tenho outro nome para lhe dar. E escusado será dizer que nunca cheguei ao Novo Testamento, que sou teimosa mas tenho vida. De qualquer modo não me saíu mal a prova, para filha de comunistas sou uma croma do caraças. Claro que a avaliação do teste não prevê uma infância com uma avó analfabeta e religiosa com a qual se mamou toooodas as séries manhosas em anos consecutivos de páscoas televisivas, nem oito anos de Coro Gulbenkian sob verdadeiras avalanchas de textos religiosos e lógicas litúrgicas.

Nem uma aula de moral no currículo, nem um minuto de catequese. E no entanto agora me lembro que numa visita de estudo ao Museu de Arte Antiga, no 11.º ano ou coisa que o valha, eu era a única do grupo que sabia que a pombinha branca era o fato-macaco do espírito santo. "Para criticar é preciso conhecer", lançou-me o meu futuro namorado a propósito, com um sorriso cúmplice. Será verdade. Mais estranho se torna que para aderir e defender, e tantas vezes para arremessar, a tanto "crente" seja suficiente papaguear.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

As mulheres simbólicas

Continuo em guerra com o vírus. Está difícil, mas ainda não comecei a carcarejar e estou descansada porque até agora nenhum papagaio morreu em Londres, por enquanto ficam-se pelos perús. A vantagem de viver no centro é que quando aparece uma irmã em ressaca de um concerto+um referendo+um exame=desejos de sushi, a viagem necessária pode ficar-se pelos três minutos a pé, até ao bar do Japa, com a sua porta de vidro aberta sobre a praça. Ainda assim o suficiente para levar com o sol na cara e alimentar a alma enquanto se adoece mais um pouco o corpo. No meio da conversa algo insólito me chama o olhar: um homem carregado de sacos corre, tentando escapar-se à mulher que o persegue e que lhe acerta várias vezes com a mala de mão na cabeça. Começo a rir e apresso-me até à porta, tentando descortinar se se trata de um assalto, se é preciso algum tipo de ajuda, enfim, o comum. O homem sentado do outro lado do bar sai entretanto do restaurante, correndo, com o mesmo objectivo, e regressa tranquilizando-me, está tudo sob controlo. A dita mulher surge novamente no écran de vidro que abre para a rua, descabelada mas sorridente, e junta-se às duas que ao meu lado a esperavam e que se apercebem surpreendidas de que era dela que falávamos. Nenhum assalto, diz ela, ainda atarantada mas bem-humorada. Apenas um anormal de um flasher, que só a assediou a ela depois de ter feito o mesmo a uma criança. Não foi mulher para se resignar ao papel de vítima revoltada. Que importa se a viram a correr descomposta, de saco em riste, numa zona tão fina onde as caras típicas encaram o dia seguinte ao SIM - e o meu óbvio e aliviado sorriso - com uma expressão sisuda de quem é credor de todo um mundo de caloteiros morais? A mulher da mala de mão tornou-se, sem que o soubesse, o meu ícone de dia 12 de Fevereiro. Não se ficou, fez-se à calçada e desfez a ofensa com as suas próprias mãos. Não chorou por ajuda; nem gritou "ai, toma, bandido!".

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

A dissolução dos maus costumes


Por Daniel Oliveira.

"Sim, tem toda a razão quem acha que este foi só o princípio da dissolução dos costumes. Antes de mais, do costume que o Estado tem de enfiar o bedelho na vida privada de cada um. Depois, do costume que a Igreja tem de fazer da lei da República arma de evangelização do próximo. Ainda, do costume de poucos se acharem no direito de ter alguma coisa a dizer sobre a forma como os demais vivem. Também do costume de tratar a mulher como um ser infantil e incapaz de gerir a sua própria vida. Por fim, do costume de termos leis que ninguém tenciona cumprir e do costume de todos acharem que isso é perfeitamente normal. E à dissolução de tão maus costumes, eu digo viva."



Eu também!
É um tempo especial, este. Atrasado, mas especial. Ver, ontem no Altis, as lágrimas nos olhos de algumas mulheres e de alguns homens, os abraços, os minutos largos de aplausos, a belíssima declaração de Maria José Alves, a sensação de que se respira, de que há esperança de que Portugal não queira ficar orgulhosamente mal-acompanhado no fosso do obscurantismo, da repressão estatal, do desrespeito pelos direitos cívicos, tudo misturado com um cocktail pessoal de tosse de cão, anti-gripais e quejandos, foi um momento que hei-de recordar, que hei-de passar, que hei-de contar às filhas que espero ter e que nascerão num país que as respeitará, que se recusará a violentá-las como tantas mulheres foram violentadas até hoje.

Parabéns a todos. Hoje, pela primeira vez em muito tempo, tenho orgulho em ser portuguesa. Um orgulho com um atraso equivalente à minha idade, mas orgulho ainda assim.

Cheio de penas

Parece que o senhor Ribeiro e Castro ficou "magoado" com os resultados da noite passada. Menos mal. Uma magoazita moral ou teológica é coisa de pouca monta, bem pior seria uma perfuração do útero ou uma septicémia... ou o banco dos réus.



O presidente do CDS precisa apenas de umas doses simpáticas de Oscar Wilde, que isso passa: Livrai-me, Senhor, das dores físicas, que das espirituais trato eu.

domingo, fevereiro 11, 2007

As luminárias domésticas

-Afinal em Lisboa não foram os 75%, foram 71 e qualquer coisa.

[silêncio]

-Cascais conta para o distrito de Lisboa, não é?
-Bem visto, bem visto...
SIM!



Parabéns, Portugal. Hoje mereces que te chamem democracia.




Afinal se calhar já não emigro amanhã...
Banda sonora do dia

What a woman must ...


Until you walk, run, fight a mile in her shoes
Don't you dare stand in front of me and tell me
What a woman must do
Until you have walked, run, fought a mile in her shoes
Don't you dare stand in front of me and tell me

What a woman must do
What a woman must do

She must
Swing from chandeliers for undeserving spouses and paramours
Who deny her suffrage by day, but crave and praise her womanly wiles by
night
Good enough to fuck but, not good enough to vote
She must
Go from the beauty of Africa, to the horrors of massa
Go from titties dangling bare and shameless
To being branded, licentious, temptress, embarrassed
Go from land of yams and heat hot
To land of cash crops and sellers block
Go… from God names, to no name, to his names
Go… from God names, to no name, to his names
Now Black
Now inhuman
Freedom stolen, family stolen, now beholden… but still golden
Field hollerin'… and Ain't I A Woman
Ain't I A Woman

I can see her, me
Washing dishes, clothes, and children
Making love, money, dinner, and beds
Always the first one off a sinking ship
But last in the line to receive respect

What
What a
What a woman
What a woman must
What a woman must do
What a woman must do
What a woman must do
Must do
Must do, must do, must do, must do, must do…

She must
Wipe away tears and reclaim strength
After rape, abortion, lover's betrayal, child's birth, child's death,
husband's abuse
Tricking to buy baby shoes
She must
Be called a muse
Which is just a synonym for use
Put upon pedestals
Dainty and protected
And because of that disrespected
Victorianized
Made a paradox of famous anonymity
Left to go insane with too much femininity
Staring at yellow wallpaper

Her heart
Open
Her legs
Open
Warm and welcoming
Waiting… for phone calls that never come
Waiting… for words of appreciation that never come
Waiting… for equal pay that never comes
Waiting

Waiting, waiting, waiting
Waiting, waiting, waiting

Waiting for love
Waiting for acknowledgment not judgment
Waiting

And when seeking or achieving any kind of power
Reduced to labels like…

Concubine. Cunt. Bitch. Whore. Stunt. Witch. Dyke
Concubine. Cunt. Bitch. Whore. Stunt. Witch. Dyke

What
What a
What a woman
What
What a
What a woman must
What a woman must
What a woman must do
What a woman must do

She must
Never settle for less based upon her womaness
Embrace the pronoun and power of SHE
Know if nothing else that her uniqueness is blessed
And a necessary component in the union between universe and people
Equal to man
At times above human understanding
She don't have to lay down for nothing or nobody
Her body in and out a wonder
The wonder of SHE

The wonder of SHE





Texto desta senhora, Ursula Rucker, mãe de família e voz desperta, música dos Jazzanova.
Ainda em casa?

sábado, fevereiro 10, 2007

À espera


Atalaia, Setembro de 2006


... amanhã pela noitinha já a fotografia nacional estará revelada.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Dale, Maria!

"A compaixão pela dor do outro é o maior valor humano. Quem não a tem por uma mulher doente, ou esgotada ou simplesmente carente e ignorante, não a finja por um feto condenado à dor. Adopte uma criança completa no Sudão.

E quanto à classe médica, que traz ao assunto tanta autoridade, a súmula do juramento de Hipócrates é noli nocere, não causar dano. Não fazer sofrer.

A defesa da vida, a qualquer preço, pode ser a defesa da morte."

Maria Velho da Costa, no SIM no Referendo. Claro como água...
Do coração que bate

"É o mistério e a delícia, a delícia, sim, a delícia, de cada um de nós, para cada um de nós, que usam como bandeira. Não saberão que não é a lei, não é o código penal no seu artigo 140º, 142º e seja o que mais for, não é um juiz, não é ninguém que nos diz da delícia desse mistério. É nosso. Só nosso. De cada um de nós. Não, não quero o Estado no que de mais pessoal e íntimo passou e passará pela minha existência. Pela nossa. De cada um de nós. Nem as cruzadas dos bons costumes, nem as inquisições morais. É nosso. É meu. Esse momento. Saiam dele. Não vos quero lá."


Daniel Oliveira, em beleza, no Arrastão e no Sim no Referendo.
Pandã

O Padre Não...



... e o Dótor Não.




Dão-se alvíssaras a quem souber apontar qual deles é mais real. Eu não ponho as mãos no fogo por nenhum deles. Aliás, cada vez mais os defensores do Não me parecem personagens mal acabadas de um romancezeco de aviário. O que está de acordo com a notória obsessão por ovos que revelam.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Espalhem a notícia, mas antes chamem a polícia!

Ora cá está, já se sabia que havia de ser uma questão de horas até o Sérgio Godinho dizer de sua justiça. No SIM no Referendo, a não perder a bem-humorada, clara e concisa resposta de mais um malfadado defensor das assassinas de embriões.


A partir da noite de dia 11 espalharemos a notícia de um país mais democrático. SIM? SIM!

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

A pergunta do referendo estabelece um limite, coisa que a desonestidade do Não não tem, limites...

Espreitem lá o Blogue do Não, mas não se assustem. Mestre SG, bem o sabemos, é um homem inteligente, e nessa maravilha que se chama Espalhem a notícia não diz "criança" para designar um embrião de dez semanas. Fala, sim, de um parto, de uma criança acabada de nascer, de uma criança desejada. Bem sei que há uma certa liberdade numa interpretação poética, mas uma coisa é poesia, outra é a mentira. Ora pensem lá um bocadinho:

O ventre de que falo como um rio
transbordou
e o tremor que anunciava
era fogo e era lava
era a terra que abalava
no que sou
Depois de entre os escombros
ergueram-se dois ombros
num murmúrio
e o sol, como é costume, foi um augúrio
de bonança
sãos e salvos, felizmente
e como o riso vem ao ventre
assim veio de repente
uma criança


Costuma dizer-se, como figura de estilo, que há limites para tudo. Mas para a desonestidade da campanha do Não esses limites não existem, vale tudo mesmo atirar bébés.

Vamos ver, no dia 11, os portugueses escolherem a liberdade cívica e não a fraude moral, a honestidade democrática e não a ditadurazeca de pacotilha armada à boa consciência.



E a malta do Não parar de usar abusivamente referências de defensores do SIM nas suas campanhas era coisa que lhes ficava bem. Não que fizesse diferença, porque a leveza com que mentem e ofendem a integridade das mulheres já lhes borrou a pintura toda há muito tempo. E vejam lá, não se enganem: olhem que a menina atenta do que não experimenta sem primeiro sentir o cheiro da tangerina já era nascida, ok? E qualquer menina já nascida, ao tornar-se mulher, tem decisões bem mais pessoais, íntimas e próprias a tomar. E tem o direito de as tomar.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

A Igreja respira pela pena de frei Bento Domingues

"É saudável, é normal que a Lei de um Estado laico não tenha que estabelecer o que é bem e o que é mal sob o ponto de vista religioso. Não desejaria ver os Estados europeus a adoptarem regimes equivalentes aos da Arábia Saudita ou do Irão: o Estado e a sociedade regidos pela lei ou pela ética religiosas. É por isso que talvez não seja um absurdo perguntar aos cidadãos, como agora, em Portugal, no referendo, se se deve responder "sim" ou "não" à despenalização da interrupção da gravidez, em estabelecimento de saúde, nas primeiras dez semanas, realizado a pedido da mulher. Não se trata de saber quem é e quem não é pelo aborto, neste prazo e nestas condições, mas quem é ou não pela penalização da mulher que aborta neste prazo e nestas condições."




Ahhh... ar fresco!
Sem papas na língua, é isto.

Aterragem estupefacta no meio do Prós e Contras
ou
Questões de lógica


Desde quarta a trabalhar que nem moura que se preze em terras da Flandres, ou mais precisamente na terra nenhuma beckettiana, depois de passar meteoricamente por Lisboa e enfiada em novo quarto de hotel no Porto, agradeço a todos os que representam o SIM neste debate por me fazerem sentir menos alien, por me mostrarem que neste país há muita gente que recusa a alienação.

Por outro lado, tenho a agradecer ao Não umas boas barrigadas de riso...

Uma doutora Célia qualquer coisa, salvo o erro, acha que a prova de que o feto tem direitos superiores à mulher de cujo corpo depende, é que um filho de uma viúva não perde direitos, ainda que o pai tenha morrido quando a gestação ia ainda nas cinco semanas. Por outras palavras, a senhora acha que o que, em última instância, valida o nascimento de um filho é a proveniência paterna. Ou por outras palavras ainda, se calhar o estado, ao despenalizar a IVG, deveria torná-la obrigatória para as viúvas grávidas até às dez semanas. São estes argumentos que imortalizam as tiradas da Natália Correia: se os homens engravidassem, o aborto seria um sacramento. O que torna tudo ainda mais patético é o ter sido uma mulher a proferir tamanha bananada.

A seguir, o doutor Nuno Lobo Antunes acha que o estatuto autónomo do embrião e do feto é comparável ao da mulher de cujo o corpo depende porque o ser humano depende da atmosfera para sobreviver, logo por definição não tem qualquer tipo de autonomia. Um argumento de dimensão verdadeiramente bíblica, eu diria. Do qual se pode concluir que se deve penalizar a IVG porque morremos se formos à Lua sem fato de astronauta. Talvez se pudesse referendar o direito da Terra, essa tragica encinta, que llena de muertezitas no cessa de parir, essa grávida inconsciente e sem coração - ou será que o tem? - a castigar-nos com catástrofes naturais; talvez, como sugere o sempre genial Quino, pudéssemos pôr os solos em tribunal por não nos recompensarem com pés de milho gigantes se os regarmos com um combustível especialmente desenhado para uma super-ultra-mega-hiper-giga-potência; a castigar os oceanos pelos criminosos avanços que engolem populações inteiras; talvez uma bomba-H atirada para as crateras dos corrécios vulcões ainda em actividade. Pode, aliás, fazer-se a proposta bíblica, para dar com o argumento original, de se referendar dEus.

Por último, ou se calhar foi a primeira, já não sei, uma outra doutora diz, com umas deslavadas mentiras pelo meio, que o estado já tem algumas regras de protecção dos embriões excedentários, donde terá de defender a todo o custo um embrião que esteja nessa coisa anónima, sem rosto e sem vida própria que é o útero de uma mulher. Sim, porque são estas qualidades uterinas que se inferem do argumento. Novamente uma mulher. Uma mulher que não percebe qual é a diferença entre um tubo de ensaio e um útero. Entre um embrião num laboratório médico e um embrião dentro do corpo de uma mulher. Ou melhor dizendo, e vamos lá a ver se nos entendemos, caramba, dentro do corpo de uma pessoa.


O que está em causa... novamente: Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado? Se o Não ganhar, como muito bem lembrou o Daniel Oliveira, e se a vitória for vinculativa, isto é, 50%+1 voto, a lei actual fica consagrada por via referendária e torna-se praticamente impossível de mudar. Se o SIM vencer, o aborto passa da clandestinidade à luz do dia, da insegurança, da doença e da morte, à saúde, ao aconselhamento, ao planeamento, à prevenção.

Isto no que toca ao referendo. Porque nas mentalidades e na sociedade o que está em causa é facilmente deduzível da argumentação do Não. O conceito de mulher. O respeito pela autonomia da mulher como cidadã completa, em direitos e autonomia. O respeito pelo corpo, pelo espírito, pela individualidade e pela intimidade de cada mulher, mesmo das que votarão Não. É, como diz Júlio Machado Vaz, tirar a IVG dos tribunais e entregá-la aos hospitais, onde pertence. É uma questão política, sim. Porque cívica e civilizacional. Por isso, o único voto possível em consciência, honestamente, igualitariamente, democraticamente, é o SIM. Não há desculpas.