sábado, abril 14, 2007

Divergências significantes: o nervosismo

É a terceira carreira deste Dom João no São João. Pelo meio já houve o São Luiz, o Argentina de Roma e o Stabile de Turim. E mesmo assim, caraças, rásparta os bichos que continuam a roer as entranhas antes de mais uma estreia. Quando se trabalha com um encenador para quem a extrema exigência é a única forma de estar no teatro, quando, passado um ano, nada estagnou, pelo contrário, as dúvidas, os auto e hetero-questionamentos, a descoberta, se avolumam sem nunca se anularem, o que podia ser a rotineira reposição de um espectáculo acabado torna-se no preciosismo e na procura e no espremer de todo o sumo que nunca acaba numa obra-prima como é este texto do senhor Poquelin, vulgo Molière. Será mesmo nervoso miudinho? Ao fim de tanto tempo não tenho medo de falhar, não me parece que vá ter nenhuma branca no meio das tiradas epistolares da magoada Elvira, conheço o estrado onde nos movemos como a palma da mão e amo cada pedaço velho de madeira. E é nesta alturas que penso que aquilo que os franceses chamam le traq não é mais que a antecipação, a excitação infantil da exploração e da representação. Aiiii, que nervos! Aiiii, que vontade!!!

Não, não é a trabalhar para o palco que se encontra a felicidade, pelo contrário, a angústia é rainha. Mas é no palco que ela, disfarçada, cruel, subtil, desvenda muitas vezes o seu rosto e me enche o corpo de um incomparável formigueiro, de uma certeza de estar viva. Deve ser isto que separa uma profissão de uma vocação. Eu tenho a sorte de estar afundada na segunda, mau-grado as incertezas desta vida de saltimbanco [que para efeitos administrativos se traduz em trabalhador independente, cheio de deveres, mas com direitos nenhuns].

Tudo isto, enfim, para partilhar convosco a música - saída da cabeça emperucada do senhor Charpentier, há trezentos e poucos anos atrás - que recebe este navio a cada noite em que chega ao porto e as palmas das mãos de quem está na plateia nos dizem de sua justiça. E, claro, para pedir o indispensável: MANDEM-ME À MERDA, CARAGO!

Prologue - Ouvertu...

11 comentários:

leandro ribeiro disse...

Oblá, Elvira? :|

Coisa engraçada, a blogosfera :)

Manda um beijo ao João Castro e diz-lhe que estou com saudades.

Manel disse...

Deveras. :) Mando sim, senhor, aliás, se é coisa de que gosto é de encher o mô rique filhe de beijinhos.

Raquel Alão disse...

Pronto! Vai! ;-)

Anónimo disse...

Meeeeeeeeeerda!
;)

(e muitos beijinhos)

MPR disse...

Muita merda. muita muita merda!

João Barbosa disse...

A mim custa-me... bem, se fazes questão... www.vaiamerda.pt se não der com ponto pt experimenta com ponto org... de orgânica. ;-)

Vítor I. disse...

Jovem, merda, merda, merda!

leandro ribeiro disse...

E mandaste? :)

Manel disse...

Então não mandei? E fechei esta curva hoje ao início da tarde, quando apresentei o Castro ao João Luc [que por sinal é primo direito do marido de uma velha amiga, go figure] à porta do TNSJ, eheheh. ;) Pode ser que um dia destes topemos um com o outro, meu caro, amanhã ou daqui a dez anos, que o imponderável aqui é rei.

Este mundo é um verdadeiro bidé... :):p

leandro ribeiro disse...

Por isso o idiota do Luc me disse que tinha conhecido o idiota do Castro :'D

Olha, estas voltas já me fizeram ganhar o dia, é o que é!

Manel disse...

Que giro, isso foi o que o Castro disse quando lhe mandei o teu beijo. :) Olha, acho que eu também posso dizer o mesmo.