O inferno são os domingos
O centro comercial foleiro que me abriram aqui à porta de casa é local de romaria. As velhotas sacam dos casacos de peles e vêm deslumbrar-se para as catacumbas da arena sacrificial. "Ai, que bem arranjado que eles têm isto!"
O sol do jardim, onde tantos dias opto por almoçar, foi-me hoje roubado pelo estaminé dos globos de ouro da sic, que faz barulho desde o início da tarde para meia-dúzia de bimbos pingados.
Ao meu lado na caixa multibanco onde faço o pagamento final para me livrar da sarna vulgarmente conhecida por TvCabo, um quarentão anafado e muito bem-posto olha-me de cima abaixo com o desdém do aristocrata obrigado a partilhar solo com a plebe. Ignoro. Mas tenho ouvidos, é uma chatice, e com a chegada do casalinho de filhos em plena exploração da puberdade, cai-me o queixo com a conversa que se passa ao meu lado. Triste bobo, o quarentão faz uma piada infantilóide para os miúdos, sabem que lá dentro está um velhinho deficiente a contar as notas, ohohohohoh? A muito custo consigo conter-me e não perguntar onde posso denunciar a fuga de um cota deficiente das ideias para o lado errado do ATM. O olhar de desdém, agora meu, é o meu único comentário, prolongado e descarado.
Adoro a casa maravilhosa onde vivo e tenho uns senhorios cinco estrelas. Mas que feliz que estou por ter ontem caçado uma casa linda, embora mais pequena, poucos quarteirões acima do Intendente. É que, caramba, há limites para a tolerância à vizinhança rasca.
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1 comentário:
Vais-te mudar, sua maluca?! Quero novidades!!!!!!! :-)
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