segunda-feira, janeiro 29, 2007

Concorda com a despenalização da mulher que aborta num sítio todo badalhoco sem condições nenhumas?

...





Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?




SIM!


E não, parafraseando o Daniel Oliveira, isto não é uma caricatura. É muito mais do que isso.

sábado, janeiro 27, 2007

A cartolina correspectiva

Recebi esta maravilha por e-mail e achei que era digna de ser admirada e partilhada. Que conclusão a tirar, senão que as nossas melhores obras de retórica são as que todos os fins de jornada saem da boca destes grandes heróis épicos... neste caso, dos seus guardas fiscais.


* Extracto do relatório do árbitro Carlos Xistra relativo à
apresentação do cartão amarelo ao jogador Micolli do Benfica.

"O jogador da equipa visitada, Micolli, desmandou-se em velocidade
tentando desobstruir-se no intuito de desfeitear o guarda-redes
visitante. Um adversário à ilharga procurou desisolá-lo, desacelerando-o com auxílio à utilização indevida dos membros superiores, o que conseguiu. O jogador Micolli procurou destravar-se com recurso a movimentos tendentes à prosecução de uma situação de desaperto mas o adversário não o desagarrava. Quando finalmente atingiu o desimpedimento desenlargando-se, destemperou-se e tentou tirar desforço, amandando-lhe o membro superior direito à zona do externo, felizmente desacertando-lhe. Derivado a esta atitude, demonstrei-lhe a cartolina correspectiva."*
No mar da metrópole

Lisboa, sexta-feira à noite. Um amigo querido guardou convites no São Luiz, e eu a despachar-me com uma incipiente vantagem face às horas que correm para conseguir estar no Chiado antes das nove, hora a que começa o espectáculo. A minha companhia não há maneira de chegar ao Campo Pequeno, leva mais de uma hora para chegar de São Pedro do Estoril a Lisboa, metade dessa hora passada já dentro da cidade, a grande cascata do desperdício humano apinhando-se nos semáforos, nos cruzamentos, rolhas de fumo e ruído impedindo a circulação e a respiração. Bom, oito e meia, dá para chegar a horas. Acometemos pelo túnel, entramos na carruagem, troca no marquês e espera um quarto de hora pelo metro da linha azul. É de ficar doente... numa capital europeia, numa sexta-feira à noite, na estação mais central das centrais, passa uma composição de quinze em quinze minutos. Impossível chegar a horas. É isto uma capital. É também por isto que há quem prefira asfixiar atrás de um volante.

Chegamos quase com dez minutos de atraso, deixam-nos entrar para um camarote de ladecos, em que não se vê metade do palco e o som é inenarravelmente mau. Um sofrimento, não conseguir entender as palavras de Melville. No camarote ao nosso lado um grupinho de meninas ri bem alto e a despropósito - deve ser uma ligação automática, se tem o Miguel Guilherme é porque é comédia -, e canta por cima dos actores em cena. Respira fundo, respira fundo. Seja, na segunda parte descemos para a plateia, será melhor. Mas não. Cá em baixo, atrás de mim alguém mastiga pastilha elástica ruidosamente, continuam os risos a despropósito e os ruídos parasitas e inexplicáveis. Do outro lado da coxia uma criança enrola-se no colo do pai, e tenta sobreviver à noite palavrosa que a ultrapassa e que possivelmente assegurará que durante anos não terá vontade de ler duas frases de Herman Melville. Cá em baixo percebe-se finalmente que a energia do discurso foi entregue por alguns actores à potência da amplificação. As palavras embrulham-se, a elocução é trapalhona, sem recorte, sem direcção. O dispositivo cénico é interessante, mas as luzes não o fazem render como poderiam - chega-se ao fim e pensa-se, pois, teve os seus momentos. A personagem de Ismael é inexistente, a de Ahab é inconsistente [e quem me conhece sabe o que eu gosto do Miguel Guilherme], apenas o Queequeg de Miguel Borges e às vezes o imediato de Ricardo Aibéo parecem ter um sopro de vida sobre o palco; o espectáculo não tem um conceito que o segure, não serve a monumental literatura em que assenta, é uma baleia branca sem força para submergir e levar-nos com ela, enrodilhados nos arpões qual índio augúrio de desgraça. E todos em cena parecem sabê-lo. A tragédia não é trágica, o coração não pula. Há actores. Há um grande texto. Há meios. Só não há teatro.



Bom, esperar o generoso ofertador dos convites para dois dedos de conversa, matar as saudades e beber um copito e já há uma hora que passou a uma da manhã. É preciso um táxi para voltarmos ao Campo Pequeno. A voz do Júlio Iglesias recebe-nos, versões em inglês naquele maravilhoso sotaque espanhol que nos garante umas boas gargalhadas Fontes Pereira de Melo acima. Pergunta-nos o latino rádio do táxi, who's gonna drive you home, tonight?, e a conversa sobre o referendo desmancha-se em risos cúmplices. Passa o Saldanha e o Julito clama I wanna know what love iiiiiis, I want you to shoooowww meeeeeee! Nessa altura já nos passou a vergonha e no banco de trás nasce um coro gospel, com palmas e cabecinhas a abanar. O motorista ri-se e conta, satisfeito, "olhe, já transportei pretos, brancos, portugueses, alemães, japoneses, italianos, ponho toda a gente a cantar com este disco; sim, porque realmente o Júlio Iglesias faz parte da cultura do mundo inteiro..." Nós, claro, continuamos a rir, os motivos já misturados entre o azeiteiro sotaque espanhol e a deliciosa e honesta conversa do motorista. Que a música é boa por causa disto. A música alimenta-me, diz feliz, e junta as pessoas. É na próxima à direita, aviso-o, e ele responde logo que era exactamente onde ele pensava, só não nos tínhamos entendido bem no início da viagem. Entre risos e desejos de bom fim-de-semana concluímos o óbvio: devíamos ter começado logo por cantar, com certeza ter-nos-íamos entendido melhor.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Adenda ao post anterior

E a mulher, a cidadã? Não é vida? Não, não propriamente. Assim que emprenha vira incubadora com pernas.
Como queijo numa ratoeira

Tenho tido por política não ligar muito à campanha do não, nada de mais, acho apenas que os seus argumentos são altamente ofensivos para as mulheres e escuso de me chatear - e de lincar. Mas na montra da Loja de Ideias deparei com esta pérola e não resisti.

"Considerando que o contínuo e crescente número de cães abandonados que deambulam nas ruas do nosso concelho, não pode, de forma alguma, deixar ninguém indiferente. Muito menos as autoridades competentes nesta matéria. Considerando a situação degradante em que estes animais vivem e o sofrimento a que são sujeitos não se coaduna com uma sociedade moderna, solidária e atenta aos direitos de todo e qualquer ser-vivo. "
Este texto está no portal do Bloco de Esquerda e deve ser vivamente saudado como uma dissidência de bom senso naquela agremiação do Sim. Quem tanto desvelo revela para com os animais, quem tanta preocupação demonstra para com os seres vivos, independentemente de serem ratos, pintos ou frangos, não pode deixar de votar Não ao aborto, no dia 11 de Fevereiro...

No Blasfémias descobriram a pólvora, no Tomar Partido comentaram-na. E é uma observação de uma acuidade extraordinária!

A conclusão a tirar, portanto, é que todos os defensores do não são ferozes activistas dos direitos dos animais; touradas, então, nem vê-las! Certo? Não? Como não? Então este raciocínio parecia tão bem feito. Hã? Ah, demagogia?... Pois, pois, feita à maneira, como de costume...

Nos comentários a este post fala-se ainda do "não como alternativa". Confesso que me custa a entender como é que uma alternativa se consubstancia na não-mudança desta lei. Já dizia o Visconti, com o seu faro para o bafio, é preciso que as coisas mudem para que tudo fique na mesma. Mas neste caso parece que qualquer mudança, seja ela qual for, é o diabo. É preferível meter a cabeça na areia, portanto. É preferível continuar a mandar onze mil e tal mulheres por ano para os hospitais com o ventre e o espírito destruídos, para quem pode há Espanha ou Inglaterra, essas abjectas gomorras. E depois julgam-se umas quantas, manda-se-lhes que abram as pernas para averiguação do Estado, invade-se mais uma vez o corpo e o espírito, e depois fazem-se perguntas abusivas e íntimas na barra de um tribunal. E a seguir dormimos todos descansados, felizes com as nossas "alternativas" para defesa da vida.

quarta-feira, janeiro 24, 2007


Katsushika Hokusai [1760–1849]
Sob a onda de Kanagawa [c.1830-5]
Trustees of The British Museum, Londres



É sempre a arriba do Rio da Prata. Maríamente, um feliz acaso. Pedras, diz a voz. Recolhe pedras para colocar nessa trouxa de pano; vais ter de subir a arriba com elas às costas, vê lá, não exageres na carga. Recolho os seixos. Com certeza, se se respiga pedras, são precisamente as mais belas, vítreas e perfeitas que as nossas mãos escolhem. A trouxa está suficientemente cheia. Escala a arriba, diz a voz. Não é território novo, não mete medo, e lá em cima aguardam as silvas carregadas de camarinhas. O corpo ofega um pouco. Não, frase estranha. No entanto bastas vezes na língua refere-se o corpo como sendo uma entidade em si mesmo, tenho o corpo dorido, tenho o corpo em forma, tenho o corpo mole, tudo coisas que se podem abreviar com um estou, estou dorido, estou aqui. Mas ofegar? O corpo não ofega, o homem ofega. Talvez porque o verbo venha directamente dos pulmões, vizinhos tão íntimos do coração, do seio, do imo. Refaça-se a frase, portanto, eu ofego um pouco terminada a subida, as pedras aumentaram subitamente de peso, não foi este o peso que eu escolhi para a minha trouxa de pano. As pedras, diz a voz, são tudo aquilo de que quero livrar-me. Compete-me livrar-me delas como se energia fossem, livrar-me da energia como se de matéria fosse feita. Chego à beirinha. De preferência, num sítio não muito perigoso, diz a voz, é escusado. Mas que posso fazer? Tenho na língua este gosto do ar no fim da terra... hábitos de infância, nem mais. E abro o saco; os seixos deram lugar a pequenas rochas rugosas e argilosas, rijas e ásperas, que arranham as mãos. Atiro uma a uma. Medo. Ódio. Desconfiança. Medo, novamente, a pedra é diferente mas o nome é o mesmo. Dependência. Cada pedra me arranha a mão e voa rodopiando na direcção do mar, onde se afunda gloriosamente. Fraqueza. Olha, no fundo da trouxa está o seixo da fragilidade, quase que ia por engano, mas não. Raiva. Desânimo. Por último, mais uma vez, uma obtusa pedra de Medo rodopia no vazio. Olho as mãos arranhadas, tintas de gotas vermelho-sangue e sorrio para elas: não eram seixos lisos, é a vida. Ergue-te, diz a voz. Ergo-me, dobro a trouxa, e regresso à areia, de pés afundados na rocha em estilhaços, para agradecer ao mar a repetida generosidade de me limpar o corpo e o espírito.


Este post é dedicado à ME

sábado, janeiro 20, 2007

Fazer pela vida...





Sem palavras, só sensações. Não esquecer o que é ainda uso ouvir-se: o aborto é um pecado, eu nunca fiz abortos, só desmanchos.


Agradecimentos ao Hugo Sousa, que não conheço mas que merece a minha admiração por este vídeo fortíssimo; e à Violeta, que mo enviou por mail.
Hipocrisias, tiranias, geografias, quasi-sharias - ou Nossa Senhora da Culpa mantenha o redil bem fechadinho, fáxavor

Um post de observação, a 360º, pela mão da Leonor Areal. E uma localização espacio-temporal, pelo Nuno Ramos de Almeida. Ambos a não perder.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Porque SIM

SIM. Porque a Interrupção Voluntária da Gravidez é uma questão de consciência individual; e só com a vitória do SIM todas as mulheres terão finalmente o direito de agir de acordo com a sua consciência. Teremos um país mais democrático.

SIM. Porque esconder a realidade nunca foi solução, e a realidade é que todos os anos entram nos hospitais portugueses mais de 10 000 mulheres com complicações resultantes de abortos clandestinos - e as que nunca chegam aos hospitais, quantas serão?

SIM. Porque estamos trinta anos atrasados no que toca aos direitos sexuais e reprodutivos.

SIM. Porque eu não tenho o direito de obrigar outra mulher a levar até ao fim uma gravidez que ela não deseja, como não tenho o direito de a condenar à ilegalidade e eventualmente à prisão caso ela decida interromper essa gravidez.

SIM. Porque nenhuma mulher deveria ser forçada a submeter-se a exames ginecológicos para depois ser julgada por uma decisão tão difícil e íntima; SIM, porque um estado democrático não pode violar a integridade de uma mulher em nome dos conceitos morais que alguns querem impôr; SIM, para acabar com a humilhação.

SIM. Porque este referendo nos chama a tomar em mãos uma decisão fundamental no que toca a direitos cívicos, à saúde pública, ao fim da hipocrisia criminosa da ilegalidade; são razões demasiadamente fortes para se ficar em casa, esperando que outros decidam por nós.

SIM, por uma cidadania completa para todos. SIM, por uma sociedade franca e democrática.

SIM. Porque votar Não é um acto de tirania.

SIM. Porque votar SIM é defender a escolha e a responsabilidade. Porque votar SIM é defender a vida.


SIM. Porque SIM.

domingo, janeiro 14, 2007

sábado, janeiro 13, 2007

SIM SIM SIM

Encontro de artistas pelo SIM, próxima 2.ª feira, dia 15, às 21h30, na sede do Bloco de Esquerda [Rua de São Bento, 694, ao Largo do Rato].

Recebido por sms. Antes que me venham com comentários sobre politização do assunto e tretas do género, este é um assunto político porque social porque de cidadania. Não sou filiada no BE, nem sequer voto BE por regra, apenas por contingência - aliás, desde que descobri as delícias do voto contingente [não confundir com voto útil, iac] que não quero outra coisa. Tentarei estar presente, porque o Bloco defende o que eu defendo, embora tenha defendido o referendo que eu nunca defendi. A palavra, claro, é para passar.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Incomunicação global


A arma de um japonês nas mãos de uma criança marroquina dispara sobre uma turista americana num autocarro no deserto, deixando uma ama mexicana do outro lado do mundo sem outra opção que não seja levar consigo até ao México, para assistirem ao casamento do seu próprio filho, os filhos do desafortunado casal perdido em Marrocos. O filme das globalizações paralelas vai-se desvendando, pessoa a pessoa, rosto a rosto, olhar a olhar. Cada vida, cada costume e comportamento. A comunicação impossível, a comunicação possível, o absurdo funcionamento das nações que esmaga qualquer traço de humanidade, que nada compreende porque nada escuta. A rapidez com que se castiga, a lentidão com que se ajuda. A incomunicação. A absurda incomunicação, aparentemente tão simples de detectar e corrigir, até porque em Babel não são os idiomas que a impedem, bate-se, ameaça-se e mata-se na mesma língua; partilha-se o amor, a solidariedade, o alívio da dor, em silêncio ou numa amorosa mistura de inglês e castelhano, sem papéis, sem nacionalidade. A comunicação humana. A incomunicação global. E pessoal, materializada em Chieko, a adolescente perdida na metrópole, que não se resigna à incomunicação da sua sua surdez, mas que na realidade nada tem a ver com a história central se exceptuarmos o ser filha do japonês cuja arma dispara a história; e no entanto é ela o seu eixo, a sua adolescência nos seus anseios mais íntimos, nas suas dores mais individuais. É de artista, señor Iñárritu.


Se queres ser compreendido, escuta. É a tagline de Babel, o último tomo da trilogia da dor filmada por Alejandro González Iñarritu; seria bom que fosse uma tagline universal.

No fim de tudo, um final feliz para o povo americano, como se ouve no noticiário televisivo japonês, ironia suprema para o espectador que conhece cada recanto do argumento e sabe que feliz é o preciso adjectivo que não pode ser usado para encerrar esta história. Um filme frio e quente, distante e atento, sem moralismos e com toda uma visão humanista na clareza das imagens, na limpidez do fio, no olho aberto para cada personagem, mesmo para as peças da roda dentada. Uma sensação de absoluta vigília, na percepção da incomunicação e do absurdo que nos rege a todos, de cada lado do muro do México, de cada lado do Mediterrâneo, de cada lado de Greenwich. E uma das mais belas imagens finais que já vi num écran de cinema.




ADENDA: Espero que este filme desperte algumas vontades de clicar no linque aqui ao lado sob o título de CONTROL ARMS.

quinta-feira, janeiro 11, 2007



Imagem descaradamente roubada à shiznogud que despudoradamente assaltara já o Diário Ateísta. Palavras...? Nem é preciso, caramba. Apenas as que lá estão: se não me podem confiar uma escolha, como podem vir a confiar-me uma criança?
Amor

Por outro lado, uma história de Amor, assim, com A maiúsculo, no Peciscas. Obrigada, Aldina, pela dica. A história de uma mulher que está, na óptica de quem votar negativamente em Fevereiro, no saco dos criminosos, quiçá no dos terroristas. A história de uma mulher que a lei criminosa empurrou para a clandestinidade e, mais do que uma vez, quase para a morte. A história de um filho que ama e compreende a mãe, que não pode compreender quem lhe julga e condena a mãe.

A ler, de fio a pavio. A votar no referendo, nem que isso implique uma viagem de centenas de quilómetros [três, no meu caso], SIM, sim à cidadania, SIM à democracia, SIM à autonomia das mulheres, SIM a um estado humanista e laico, SIM ao fim do fanatismo e da tirania, SIM à liberdade, SIM à responsabilidade, enfim, SIM À VIDA.
Demagogia, hipocrisia, tirania? Não, obrigad@s.

Umbigos

Alguém disse a este belo fotógrafo que os blogs eram uma espécie de exposição dos umbigos dos autores. Ora o meu umbigo teve direito a post no umbigo do JL e no umbigo do umbigo. Apesar do meu IMC inferior ao limite mínimo legal, o meu umbigo é neste momento um umbigo inchado. E conhecer o artista em questão foi um prazer não-umbilical e mais uma prova de que nem todas as pessoas no mundo me dão vontade de me refugiar numa cova no deserto tendo por alimento apenas um arbusto de zimbro. Aquele cabelo é da niña María, aquele camarim foi o meu primeiro camarim no TNSJ, aquelas olheiras são minhas, aquela felicidade de fim de bom espectáculo também, e aquela fotografia é uma das mais bonitas e generosas em que já me vi. E aí vai o meu umbigo a voar pela janela, jajaja.


Hás-de explicar-me que "coisas" são essas que se confundem com anomalias estatísticas, ó JL...

terça-feira, janeiro 09, 2007

Razões para votar SIM a 11 de Fevereiro

Um livro cheio de razões é lançado amanhã. Segue a info:

CONVITE

O Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo Sim vai realizar, no próximo dia 10 de Janeiro, quarta-feira, pelas 18 horas , na sala Jade do Hotel Lutécia (Av. Frei Miguel Contreiras, 52, Lisboa, mesmo ao lado do Teatro Maria Matos), o lançamento do livro

POR UMA VIDA DE ESCOLHAS
razões para votar sim no referendo sobre a
interrupção voluntária da gravidez

com textos de
Alice Brito, Ana Vicente, Ana Luísa Amaral, Fernanda Câncio,
Fina d'Armada, Helena Matos, Inês Lourenço,
Inês Pedrosa, Júlio Machado Vaz,
Leonor Xavier, Lídia Jorge, Maria Antónia Palla,
Maria Teresa Horta, Miguel Vale de Almeida,
Paula Moura Pinheiro, Possidónio Cachapa,
Rui Zink e Teresa Pizarro Beleza.

O livro será apresentado por Paula Teixeira da Cruz.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Kampanha jovens e menos jovens com asas mas com os pés na terra e respeito pelo próximo

E já agora, onde quer ver investido o seu dinheirinho?



clique na imagem para ampliar
Última pesquisa no Google

Pois é... Clínica do Arcos+Badajoz escrito no campo de pesquisa e cá veio ter, direitinho. Não é preciso ir à net, há anos e anos que os contactos desta e da clínica de Madrid surgem nos classificados de muitos jornais. Mas quando voltares de Badajoz, cara leitora, não te esqueças de que no dia 11 de Fevereiro tens um ponto de honra a fazer. Votar SIM no referendo, para que mais nenhuma de nós tenha de passar por aquilo que passas agora: a inevitabilidade da ilegalidade, a humilhação da menoridade, a dor da decisão exponenciada infinitamente.

quinta-feira, janeiro 04, 2007



... mas há outras categorias. Por exemplo, a das vulgares, barulhentas e filmadas com telemóvel.
Balanço de semana sem postas

Quando se traduz em contra-relógio perde-se a capacidade de escrever mais uma única linha ao computador. O bicho só serve para trabalho e jogos idiotas para desopilar. Nem para os e-mails sobra coragem.

Quando se traduz em contra-relógio, é bom ter a ajuda do Gould com as Goldberg. Parece que os dedos se juntam na mesma velocidade, ainda que a 60 anos de distância.

Quando se traduz em contra-relógio algo que não nos vai à alma, é bom ter a ajuda do Gould com as Goldberg e fingir que o que nos sai dos dedos não são receitas saudáveis para o fim-de-semana, mas aqueles sons... aquelas frases.

Quando se traduz em contra-relógio, as nove do Beethoven são uma má escolha. Não só é impossível ficar calado, como é um esforço absolutamente desumano tentar manter os dedos no teclado em vez de agitar os braços e achar que aquilo sai das nossas mãos e não da batuta do Rattle. Já assistir às imagens do enforcamento mais democrático das democracias modernas ao som do Finale da 9.ª vagueia entre o poético e o patético. Alle Menschen werden Brüder, wo dein sanfter Flügel weilt.

Quando se traduz em contra-relógio é bom intervalar regularmente para ir até ao piano ler a Ária das Goldberg. Ao fim de semana e meia está de cor e quase sem ter dado por ela. Depois, basta sorrir face à possibilidade de nos próximos dez anos conseguir estudar as variações que se seguem.



Quando mais uma vez se passa o ano na casa mais linda do mundo, é bom não claudicar antes do nascer do sol.


Carne Assada, 1 de Janeiro de 2007


Bom 2007, minha gente! Façam-no bom.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Se a Baixa se afundasse...

... continuaríamos a ter o Bairro Alto para recuperar almoços perdidos. Dos States, ali ao Campo Grande, até NY que está para breve, seja a distância qual for, o Telescópio voltou, olhando-nos de cima para baixo, com a lente de poeta, do topo do seu Arranha-céus. Mais uma vaga de Maio, na coluna de linques.

sábado, dezembro 23, 2006

Confissão orgulhosa para um natal ansioso

Um amigo dizia-me ontem que esperava perder a aposta que fez: a de que o SIM não vencerá no referendo de 11 de Fevereiro. Estou farta de levar lambadas, é esta a verdade, mas ainda assim não posso convencer-me de que os fala-barato que da praia se espantaram com o resultado do primeiro referendo sobre a legalização da IVG irão, novamente, deixar para os outros a tarefa de evitar pelo voto que morram e se humilhem mais mulheres [pagar cadeias para quem aborta, com os meus impostos?! Nem obrigada!]. Fora com o bafio. Fora com o conceito de mulher-incubadora. Às urnas em Fevereiro, senhores. Nada justifica a vergonha que se vive no país, nem o Salazar nem o Cerejeira nem o Guterres nem o Bentinho. Mão na consciência e vergonha na cara, é o que é preciso. E que cada ricaça que já pagou uma IVG em Madrid ou em Londres não consiga dormir depois de votar Não.

Eu, por mim, quanto mais vivo mais mais me angustio, mas também durmo cada noite melhor, de consciência tranquila. Não é, pois, para a limpar que volto a publicar esta confissão. É, isso sim, para relembrar que a realidade existe, não nas páginas dos livros sagrados, mas nas ruas, nas cidades, nos íntimos de cada cidadão, no corpo autónomo de cada cidadã - mulheres formadas, conscientes, cujo organismo sobrevive por si, que têm direito a decidir sobre si mesmas e a quem os estados-nação devem séculos de direitos e igualdade. Onde no texto abaixo se fala de "pró-vida", deve ler-se "pró-prisão", chamemos pois os bois pelos nomes. A minha consciência acarinha esta confissão. Que a vossa não acarinhe a humilhação quando forem chamados a dizer de vossa JUSTIÇA [pois que é disso que se trata], em 11 de Fevereiro.


Há um ano atrás, por esta altura precisamente, parti às três da manhã em direcção a Badajoz num Daewoo Matiz com uma amiga repousando no banco de trás a caminho de pôr em prática a decisão mais difícil da sua vida.

Há um ano atrás aguardava na sala de espera da Clínica dos Arcos observando em meu redor a quase totalidade de mulheres portuguesas, jovens e menos jovens, que aguardavam a sua vez, e de pais mães irmãos namorados amigos maridos portugueses que aguardavam como eu, sem saber que mais fazer para minorar aquela etapa terrível para além de estar presente de corpo e alma. E compreender. E acompanhar. E ter compaixão. É curioso que escasseiem tanto estas capacidades nos abusivamente auto-intitulados de Pró-Vida. Perdoem-me, não é curioso. É revoltante.

Há um ano atrás, escutando a descrição feita pela minha amiga do acompanhamento social, psicológico e médico que a clínica em questão fornece e observando ainda assim o seu sofrimento, muito me revoltei sobre a imoralidade que é penalizar as mulheres ainda mais, obrigando-as a agir fora da lei, a maioria das vezes na vergonha e no isolamento e sem o mínimo de dignidade ou segurança. E pensei nos países que já ultrapassaram o problema, em que a legalização do aborto correspondeu a um menor recurso ao mesmo. Países em que as leis não se submetem eternamente ao obscurantismo e à prepotência de uns quantos que se consideram detentores de uma moral superior e designados por não sei quem para serem os guardas da função sagrada da maternidade de qualquer mulher, seja qual for o seu credo, cor, religião, personalidade, opinião pessoal, quaisquer que sejam os seus sentimentos mais íntimos. Gente que não entende o significado da palavra cristianismo. E para quem a democracia é a parca liberdade dos outros terminar onde começa a sua ampla, pura e santa liberdade. Não tem outro nome o que se passa em Portugal: é fascismo sexual e reprodutivo.

Há um ano atrás, como hoje, não senti vergonha de ser portuguesa. Mas senti vergonha do estado do meu país.


texto escrito em Setembro de 2004 e originalmente publicado AQUI








IVG: Em caso de dúvida, vote SIM.


... E bom solstício de inverno para todos!

terça-feira, dezembro 19, 2006

Em casa


Alcântara, 19 de Dezembro de 2006

Se uma gaivota viesse
Trazer-me o céu de Lisboa
No desenho que fizesse
Nesse céu onde o olhar
É uma asa que não voa
Esmorece e cai no mar.

Se um português marinheiro
Dos sete mares andarilho
Fosse quem sabe o primeiro
A contar-me o que inventasse
Se um olhar de novo brilho
No meu olhar se enlaçasse

Que perfeito coração
No meu peito bateria
Meu amor na tua mão
Nessa mão onde cabia
Perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
As aves todas do céu
Me dessem na despedida
O teu olhar derradeiro
Esse olhar que era só teu
Amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
Morreria no meu peito
Meu amor na tua mão
Nessa mão onde perfeito
Bateu o meu coração.

Alexandre O'Neill/Alain Oulman

08 Gaivota.wma

aqui na voz da minha maravilhosa vizinha e amiga Luísa Cruz e nos dedos do mais lindo dos americanos em Paris, Jeff Cohen

domingo, dezembro 17, 2006

Ultima parada en el andém con otro humo y otra pena y otro trén para la espera...


TNSJ, Porto
17 de Dezembro de 2006


Si el bandoneón me provoca, le muerdo fuerte la boca!

sexta-feira, dezembro 15, 2006

2 º


Rua Augusto Rosa, Porto
14 de Dezembro de 2006



Dentro do teatro navega-se pelo Río de la Plata, cá fora, só o jornal traz ecos do hemisfério sul. Este é o outro lado da rua da Paulista, dormitório gelado com as Marías por cabeceira. Sinto-me estranhamente integrada no frio agreste que deveria enregelar-nos até aos ossos da indiferença.

domingo, dezembro 10, 2006

Pastelaria Paulista

A Paulista é paragem mais ou menos obrigatória para quem trabalha no pequeno grande teatro do outro lado da Augusto Rosa. Uma boa sopa que disfarça o almoço que não houve, os croissants e o pão-de-ló que salvam as tardes de sapa quando a dona Júlia faz folga e o bar do pessoal é apenas uma sala marmórea e fria. Ao meu lado, no balcão, um homem tisnado, de idade indefinida, nem muito sujo nem muito lavado, nitidamente um cliente habitual, personagem natural do mundo particular e heterogéneo que é a Praça da Batalha. Com tom familiar, dirige-se à empregada.
- Como é que se chama?
- O quê - brinca ela, castiça -, como é que eu me chamo?
- Não, o bolo.
- Ah, o bolo chama-se "delícia".
- Então era uma delícia, menina Eva, que o seu nome sei-o de trás para a frente.
- Ah sim? E como é o meu nome de trás para a frente?
- Ave!
Os risos da empregada, que se empertiga para a resposta; e eu aguardando o inevitável "Avé, César!". Mas ela troca-me as voltas ao riso:
- Avre-te, sésamo! -, diz, sorridente.
E ele logo, muito solícito, a corrige:
- Ave-te, Eva!