quinta-feira, janeiro 04, 2007

Balanço de semana sem postas

Quando se traduz em contra-relógio perde-se a capacidade de escrever mais uma única linha ao computador. O bicho só serve para trabalho e jogos idiotas para desopilar. Nem para os e-mails sobra coragem.

Quando se traduz em contra-relógio, é bom ter a ajuda do Gould com as Goldberg. Parece que os dedos se juntam na mesma velocidade, ainda que a 60 anos de distância.

Quando se traduz em contra-relógio algo que não nos vai à alma, é bom ter a ajuda do Gould com as Goldberg e fingir que o que nos sai dos dedos não são receitas saudáveis para o fim-de-semana, mas aqueles sons... aquelas frases.

Quando se traduz em contra-relógio, as nove do Beethoven são uma má escolha. Não só é impossível ficar calado, como é um esforço absolutamente desumano tentar manter os dedos no teclado em vez de agitar os braços e achar que aquilo sai das nossas mãos e não da batuta do Rattle. Já assistir às imagens do enforcamento mais democrático das democracias modernas ao som do Finale da 9.ª vagueia entre o poético e o patético. Alle Menschen werden Brüder, wo dein sanfter Flügel weilt.

Quando se traduz em contra-relógio é bom intervalar regularmente para ir até ao piano ler a Ária das Goldberg. Ao fim de semana e meia está de cor e quase sem ter dado por ela. Depois, basta sorrir face à possibilidade de nos próximos dez anos conseguir estudar as variações que se seguem.



Quando mais uma vez se passa o ano na casa mais linda do mundo, é bom não claudicar antes do nascer do sol.


Carne Assada, 1 de Janeiro de 2007


Bom 2007, minha gente! Façam-no bom.

2 comentários:

Anónimo disse...

não pode ser, esse sítio não existe.

Manel disse...

existe, existe... :)