sexta-feira, abril 20, 2007

Divergências significantes: a dissidência

Proposto para discursar em representação dos jovens no tradicional palanque montado no Rossio para as comemorações do 25 de Abril, o Ricardo Araújo Pereira foi vetado pela JCP e pelas organizações jovens da sua órbita. E graças à intransigência do lado que há trinta anos propõe e decide quem fala pelos jovens, pela primeira vez parece que não haverá intervenção dessa facção abstracta a que se chama "a juventude". Ora, o RAP representa o que de melhor a liberdade de pensamento pode produzir na esfera pública do entretenimento; teve um papel importantíssimo neste recente referendo de importância civilizacional, com o seu professor Marcelo; há uns anos, antes do boom fedorento, lembro-me bem de o ver no Herman Sic, de cravo na mão, cantando toda a letra do Portugal Ressuscitado; faz da cidadania activa uma forma de estar na vida e de, sem demagogias, ou melhor, sem merdas, pôr a render a sua visibilidade. Qual o seu grande defeito, pergunto eu? Ter sido, pretérito descomposto, militante comunista? É ele um traidor à causa, portanto? Não fizemos com cravos uma revolução democrática precisamente para podermos falar à vontade, pensar à vontade, gozar à vontade, intervir à vontade, criticar, mudar, desafiar à vontade? Que porra, hã? Não tem este pessoal vergonha na cara? Somos todos devedores do centralismo democrático, queres ver?


Falar nas comemorações como representante da juventude não é nenhuma condecoração. Mas neste momento tenho pena. Porque se o fosse, a minha, que fui oradora pela juventude há três vinte e cincos atrás, seria imediatamente devolvida à interjovem, à ecolojovem ou directamente à jcp. Com uma nota de condolências por tão triste figura.

24 comentários:

João Barbosa disse...

Costuma dizer-se que Roma não paga a traidores. Ironizo anacronicamente: Moscovo não paga a traidores. O grande pecado de Ricardo foi ter «traído» o ideário comunista, ter tornado-se pagão depois de ter professado a religião única e certa, a luz na Terra, aos olhos do dogma comunista.
O comunismo não é não foi nem nunca será pró-democrático. Quando discutimos, e bem, que liberdade se deve dar aos movimentos de extrema-direita na sociedade esquecemo-nos de discutir que temos, vestidos de cordeiros, outros inimigos da democracia, talvez menos ostensivos, mas não menos antipatizantes da liberdade de expressão, de movimentos e de pensamento.
Os comunistas têm a mesma forma totalitária de imporem a sua vontade e vontade de ver do catolicismo mais retrógado e empedrenido. Por isso, quando li a notícia não estranhei. Encolhi os ombros e exclamei triste: NÃO FOI PARA ISTO QUE SE FEZ ABRIL! mas foi contra o PCP que se fez o 25 de Novembro.

Peço desculpa por me ter alongado.

Manel disse...

Continuo a pensar que o marxismo não é uma religião, e que as ideologias progressistas não são nem nunca foram bíblias reveladas. Por isso, sim, espanto-me, não só com a falta de mentalidade democrática mas também com a estupidez política, porque isto é um verdadeiro tiro no pé para o PCP, não só o de hoje, mas sobretudo o de amanhã. Mas também não me esqueço de outras coisas, outras lutas, outras histórias. E penso que temos muito a aprender com a história: o que se alcançou e o que se errou [e os porquês desses erros]. Marx, quando escreveu O Capital, não pensava em São Petersburgo, mas em Londres, e gosto de pensar que Lenine não almejava construir os degraus para um demente e criminoso Estaline. Mas nos ses da história isto é, na realidade, uma questão de gosto. Penso que é possível e faz sentido um partido comunista - e mesmo este partido comunista - democrático. E felizmente sei, por experiência própria, que existem inúmeros comunistas com uma mentalidade bem mais democrática do que muitos que se chamam socialistas, sociais-democratas, centristas, bloquistas. Há premissas-base de igualdade e justiça social no comunismo que são pilares, e nunca me esqueci do que ouvi ao meu professor de história no 12.ºano: foram as utopias que alimentaram as lutas e as conquistas que nós, os democráticos, fizemos ao longo do século passado. O homem, a natureza humana, seja lá o que isso for, é o problema, a matéria e a solução. O "homem novo" das utopias não se criava por decreto, e não era, não poderia ser, um carneiro. Como não o era o super-homem de Nietzsche. A diferença é que o abusado Hitler nunca pretendeu permitir a todos, independentemente de sexo, raça ou credo, que se tornassem super-homens, mas apenas que estivessem disponíveis para serem dominados ou exterminados por uma classe deles. É um universo de diferença. Aliás, outra coisa de que não me esqueço é do meu comunista pai a repetir que não havia paises comunistas, mas sim socialistas, numa via que tinha o comunismo como objectivo. Acho graça a esta distinção; parece-me muito lúcida, embora demasiado estanque. E não, não concordo e não aceito a comparação com os fascismos. Não se pode comparar uma ideologia que procura acabar com a exploração do homem pelo homem, que se funda em princípios de humanismo, de auto-determinação dos povos e das gentes, com monstruosidades que na sua essência filosófica defendem a desigualdade, o obscurantismo, a repressão, o racismo, o sexismo, a xenofobia. Não, perdoa-me, mas não é de todo a mesma coisa. Não julgo uma filosofia/teoria/ideologia por aquilo em que foi manipulada e adaptada a jogos de poder velhos de séculos. E tenho esperança de que o PCP perceba a tempo que está num caminho fatalmente errado. Porque a sociedade portuguesa precisa deles, no parlamento e fora dele.

Por último, se só tivemos um 25 de Novembro e não uma guerra civil, em muito o devemos à consciência dos comunistas. Não tenho dúvidas de que a outros intervenientes no processo, internos e externos, tal cenário não faria grande mossa.

E bom, só não faço um post deste comentário porque não quero dar a ideia de que depois de criticar tenho de passar a mão pelo pêlo. O que é uma altamente democrática auto-censura.

O que não me agrada nada.



Vou dormir sobre o assunto.

Manel disse...

Só mais uma coisinha. Dizes que "os comunistas têm a mesma forma totalitária de imporem a sua vontade" e deixaste-me intrigada. Mas houve alguma apreensão de armas ilegais num encontro de comunistas, foi? É que eu não ouvi falar de nada. ;)

João Barbosa disse...

1) tens dúvidas que o PCP tinha armas em 74 e 75? e que pretendia a tomada pelo poder? aliás, por alguma razão o país esteve à beira da guerra civil, só não entrou porque não terá interessado ao Vaticano comunista.
2) ainda acreditas na bondade de Lenine? não era só Estaline que era mau. O Lenocas também foi um pulha.
3) o PCP hoje sujeita-se, coitado, tem de se sujeitar às regras democráticas, mas no seu discurso e propostas está lá tudo o que defendia em 74 e 75 e que quase meteram o país na guerra civil.
4) não sou a favor de ilegalização de partidos. acredito que é mais construtivo e benéfico ter as situações às claras do que em situações de sombra, mas o PCP não é um partido de cordeiros.
5) quando digo estas coisas refiro-me, claro está, à hierarquia. não ao cidadão bem intencionado que vota, muitas vezes sem consciência de que pôr trás do embrulho está um projecto totalitário e pernicioso. acredito nos comunistas honestos e bem intencionados. as minhas críticas fazem-se ao escol e à hierarquia dos comunistas.
bjs

Manel disse...

Ainda bem que o PCP não é um partido de cordeiros, meu caro, porque essa história de que a luta de classes acabou é uma grande treta. E se lá em cima temos verdadeiros lobos, não é de cordeiros que precisamos cá em baixo, mas de seres humanos pensantes.

Quanto ao programa do PCP por alturas do PREC... enfim. Espero não estar a dar-te uma novidade ao relembrar, só a título de exemplo, que a reforma agrária estava no programa todos, CDS incluído. Dos desenvolvimentos políticos subsequentes e do que eles nos dizem dos objectivos dos vários partidos, cada um que tire a sua conclusão.



Duvido que o arsenal do PCP alguma vez tenha batido o stock dos amigos americanos e cia [sigla a ser lida em todos os seus sentidos].

João Barbosa disse...

não é verdade que a reforma agrária estivesse no programa de todos os partidos e muito menos o modelo colectivista que foi aplicado.

Manel disse...

Ai não? E agora, qual de nós tem o ónus da prova?

Raquel Alão disse...

Voltando ao Gato Escaldado: olha que cambada de palhaços mesquinhos... Já andam a aprender bem depressa, e de pequeninos, a manipular o poderzinho...

Manelinho... De boas intenções está o inferno cheio... É muito bonito uma ideologia que procura acabar com a exploração do homem pelo homem, mas quando ela se converte, na prática, num totalitarismo aberrante.. Bem, tenho direito às minhas dúvidas... Talvez não muito diferente daquilo que toda a gente gosta de apontar à ICAR nos dias de hoje, não? Olha que não anda tão longe quanto isso...

De qualquer forma, é um assunto que tenho imensa curiosidade de discutir contigo (porque sei pouquíssimo), cara a cara. Quero mesmo muito aprender contigo e conhecer melhor os porquês da tua opinião. :-) A minha família, da parte da minha mãe, era comunista q.b. (Barreiro, estás a ver, claro... Lol!), mas isso perdeu-se com os meus pais e portanto, há uma série de informação e um viver com que se diluiu por completo...

(Há uns anos ainda ouvia a minha avó gemer um: "Ai, o Cunhal, esse é que era um bom homem, coitadinho...". Ora, isto é muito limitativo... É um buraco inadmissível no meu conhecimento, na minha história pessoal e que envolve a do meu país também. :-))

João Barbosa disse...

ónus da prova? O PSD foi o único partido que não defendeu a reforma agrária. Contudo, os projectos de reforma agrária de PS e CDS não era colectivistas. Todavia, só os iluminados do comité central do PCP continuam a defender o mesmo sistema ainda hoje, apesar do falhanço absoluto e de todos os erros. enfim...

Manel disse...

Tens razão, afinal. Mas a confirmar que tinhas razão encontrei as coisas que me faziam ter a ideia de que não estava totalmente enganada. Devo dizer que me dá um gosto particular, ler no documento A Social-Democracia para Portugal, programa do PPD de 1974, passagens que falam na "necessidade de oferecer aos portugueses a possibilidade de tornarem efectiva e actuante uma vontade política dirigida pelos valores do socialismo", entre outros momentos bastante bem escritos e argumentados. Ou as definições que se seguem:

"-Democracia económica como participação de todos na organização colectiva da satisfação das necessidades, como igualdade no direito de todos ao bem-estar e à segurança social, e como intervenção colectiva nas formas e nos objectivos de produção.

-Democracia social e cultural como eliminação de distinções de classe, de estado ou de função social – e das hierarquias delas decorrentes –, como livre acesso de todos à vida cultural da comunidade, e como favorecimento da criatividade individual e da liberdade de espírito.

A democracia política, a democracia económica e a democracia social e cultural condicionam-se mutuamente porque todas as formas de desigualdade tendem a produzir diferenças de poder, domínio do homem sobre o homem e, afinal, limitação ou supressão da liberdade em todos os sectores da vida social."

Diria que desta definição de democracia económica para as UCP's a distância só o Sá-Carneiro a conheceria, caramba, que eu vejo-a mal. De resto, assino em baixo, linha por linha. O PSD é que não. E que dizias tu, Raquel? De boas intenções está o inferno cheio? Pois é verdade, aqui está mais uma prova disso.

Estamos a falar de homens. As ideias estão aí e agem na mudança, mas os homens, cada homem é o seu filtro, o seu medium. Por isso a alienação é o grande inimigo da democracia, e se há grandes responsáveis recentes pelo rebanho que hoje parecemos ser, eles estão ou estiveram no PS e no PSD, que nestes trinta anos sabotaram mais ou menos descaradamente o ensino público. Recordo apenas o início da discussão, para o caso de vocês não se lembrarem bem. O caríssimo João comparou, por outras palavras, o PCP ao PNR. Penso que toda a história do PCP o desmente. Independentemente de eu não ser militante nem votante regular do PCP - mas sim, voto, não tão poucas vezes como isso, CDU. E tenho a consciência, e não a fé, de que não estou a votar num pênêrê nem em nada que se pareça. E também não estou a votar em nenhum tipo de bíblia.

João Barbosa disse...

Eh lá... com umas reticências. O PCP não é racista nem xenófobo. O PCP tem militantes democratas e oficialmente, de fachada, também o é. Já o PNR é assumidamente antidemocrático. Só tentei dizer que a hierarquia comunista é antidemocrática, tão desprezo tem pela democracia que mantém aquela fantochada da CDU, que é uma coligação que não existe, com um partido que não vai às urnas nem representa nada, apenas para ter mais uns tempos de faladura por ser grupo parlamentar e para fingir que não está sozinho, que é plural (só acredita quem se deixa enganar).
No entanto, não ponho, neste momento, o PCP ao mesmo nível do PNR. Só digo é que o PCP (leia-se as chefias) não me comem os miolos na cabeça nem acredito nas suas abençoadas intenções. Só isso.

Manel disse...

Bom, agora entramos no que é que cada um entende por democracia. Porque aquilo que os partidos que têm tido o poder foram construindo também não é uma democracia, embora o seja de fachada - e pronto, vá lá, em algumas coisitas que conseguimos segurar, que apesar de tudo os tempos são outros e temos o século XX por trás e a carta dos direitos humanos e o que resta da onu.

Por discordar do funcionamento interno do PCP é que nunca fui militante, embora oportunidades - e vontades esporádicas de aderir - não me tenham faltado. Ainda bem que os comunistas não te comem as papas na cabeça. E democraticamente espero que mais nenhuma facção política tas coma. Mas da maneira como expuseste as coisas no início desta discussão, tenho as minhas dúvidas, não me leves a mal.

João Barbosa disse...

:-)
claro que não te levo a mal. E também espero que nenhum partido me coma os miolos na cabeça. Faço por isso. Sou independente de direita e o meu voto não tem dono. Sou por regra conservador, mas não tenho problemas em alinhar com a esquerda em várias matérias.
o que é a democracia? sinto-me confortável com a que temos, mas é claro que poderia ser aperfeiçoada. discordo em absoluro com as ideias de melhoria propostas pelos comunistas e suas aproximações a modelo cubanos, onde há crime de consciência, não há liberdade de expressão, delito de opinião, presos políticos, tortura, segregação por doença, etc. O sol da Terra deixou de ser Moscovo para passar a ser Havana. Cuba deixou de ser o bordel da América para ser da Europa. Não tenho paciência para a hipocrisia e cinismo do comunismo acerca da democracia. A que temos pode não ser perfeita, mas é muitíssimo melhor que os modelos propostos pelos comunistas e pela esquerda radical.

Raquel Alão disse...

Ei! Não insinuei que votavas em qualquer tipo de bíblia, atenção! Estava apenas a divagar em paralelismos que me atravessaram, sim? Há qualquer coisa de muito forte e primário no ser humano que ultrapassa por completo as ideologias humanistas e os seus criadores, e foi isso apenas que quis referir... E por isso me lembrei do santo catolicismo com a sua santa inquisição. Há lá algo de mais simples e directo que um "Amai-vos uns aos outros como a vós mesmos"? E como é que se justifica o dominio sobre o outro, a usurpação, a morte, a tortura, a prisão intelectual, o abuso em nome do amor? As instituições de poder serão sempre fonte e regaço da corrupção e dos seus corruptos, que tudo poluem tentacularmente...

Manel disse...

Se me permitem, aconselho-vos a leitura de um pequenino livro, que em Portugal foi editado pela Dom Quixote. Chama-se "Escuta, Zé Ninguém", e é do senhor Wilhelm Reich, o psiquiatra que encontrou e explicou cientificamente o "orgone", que basicamente é o ki dos japoneses, o chi dos chineses, o prana dos indianos. É um livro que interpela cada um de nós quanto às escolhas que fazemos e fizemos. Os cristãos que escolheram Paulo em vez de Cristo; os comunistas que escolheram Estaline em vez de Marx e de Lenine; os alemães que escolheram o abjecto übermensch de Hitler pensando - ou querendo pensar - que era o mesmo übermensch de Nietzsche. Todos os que perseguem os seus amigos e se dobram aos seus inimigos. Todos os que preferem uma desculpa para os erros à responsabilidade de tentar acertar. É o Zé Ninguém que todos somos que fode isto tudo, perdoem-me o latim. A sério, procurem-no. Lê-se de uma assentada. E é um bálsamo. Um bálsamo negro, e cheio de esperança simultaneamente.



Querida Raquel, aquela história das bíblias não foi para ti. Há muitas pessoas que encaram as ideologias como bíblias, demasiadas delas entre os comunistas, aliás, mas não só. Há outras que encaram as bíblias da perspectiva utilitária, ou seja, de como lhes podem permitir alcançar mais e mais poder. Ambas as coisas estão longe da liberdade e carregadas de manipulação. Foi por isso que fiz aquela distinção. Não para me distinguir dos religiosos - sobretudo dos religiosos como tu - mas mais para me distinguir dos comunistas que nunca se põem em questão. E que, repito, não são todos, felizmente para nós.

João Barbosa disse...

não concordo nada com vários raciocínios aqui expressos, mas pronto. Também não me apetece discutir :-) ... essa do Paulo e do Cristo, enfim, enfim... e do Marx, Lenine e Estaline, então...
bjs

Raquel Alão disse...

Sim, sim! Olha, mais um para ler... E bem urgente.

João, olha que não anda muito longe da verdade... O Cristianismo como o conhcemos é um produto paulino... Cristo nunca deixou mensagem escrita, nem o sermão da montanha foi por ele transcrito. Se o Cristianismo, versão Pedro, tivesse vingado, muito provavelmente teria hoje desaparecido, ou seria uma minúscula seita judaica... Já para não falar no Cristianismo versão Tiago e outros muitos... Nem se pode falar num Cristianismo primitivo, mas em vários, tais eram as possibilidades e a diversidade de "evangelhos" na altura. Saberás melhor do que eu, até porque Paulo se refere várias vezes a isto nas cartas, a doutrinas "supostamente" cristãs que ele contesta junto das comunidades que fundou... O Cristianismo como o conhecemos é bastante posterior a Cristo... Como um artista que perde o controlo da obra... :-) Isto para não falar em todos os desenvolvimentos/acrescentos filosóficos e teológicos que foi sofrendo ao longo dos séculos.

Raquel Alão disse...

Sim, sim! Olha, mais um para ler... E bem urgente.

João, olha que não anda muito longe da verdade... O Cristianismo como o conhcemos é um produto paulino... Cristo nunca deixou mensagem escrita, nem o sermão da montanha foi por ele transcrito. Se o Cristianismo, versão Pedro, tivesse vingado, muito provavelmente teria hoje desaparecido, ou seria uma minúscula seita judaica... Já para não falar no Cristianismo versão Tiago e outros muitos... Nem se pode falar num Cristianismo primitivo, mas em vários, tais eram as possibilidades e a diversidade de "evangelhos" na altura. Saberás melhor do que eu, até porque Paulo se refere várias vezes a isto nas cartas, a doutrinas "supostamente" cristãs que ele contesta junto das comunidades que fundou... O Cristianismo como o conhecemos é bastante posterior a Cristo... Como um artista que perde o controlo da obra... :-) Isto para não falar em todos os desenvolvimentos/acrescentos filosóficos e teológicos que foi sofrendo ao longo dos séculos.

João Barbosa disse...

só me referia quanto ao «preferir» Paulo a Cristo ou escolher um e não o outro.

Manel disse...

Trata-se da utilização do nosso livre arbítrio para a construção sobre princípios, por oposição à estagnação sob dogmas. Assim, sinteticamente, é o melhor que sei explicar. E como o homem, e não deuses ou profetas de vária espécie, é, neste caso, o princípio e o fim, tudo se encontra na análise desse bicho enigmático para si mesmo - nós. Nas palavras do próprio autor, somos uma espécie de atirador altamente capaz, que escolhe sistematicamente acertar uns furos abaixo do alvo. Mas o melhor é lerem mesmo esse testemunho impressionante, escrito com uma grande alma em tempos muito conturbados. Mesmo que se discorde de uma linha, uma frase, um parágrafo ou mesmo de uma página inteira, penso que é um texto que desafia a reflexões altamente enriquecedoras. E dolorosas, certamente. Mas já dizia o outro, nothing worth doing in life is easy.

Manel disse...

Mas deixa-me tentar arranjar forma de expôr mais claramente essas "preferências": no caso dos cristãos, os que, enchendo a boca com o nome do cristo, escolhem sempre atirar a primeira pedra, por exemplo. Os que preferem o celibato ao amor. O poder à justiça. O juízo à humanidade. Não sendo cristã, ou sendo-o, à minha maneira, não preciso de renegar os princípios que se colam à boca de cristo para abominar o polvo que sobre o nome dele se assentou. E isto pode extrapolar-se para muita coisa. Não renegarei Einstein porque o seu trabalho permitiu que se chegasse à bomba atómica. Mais ou menos por aqui. Se ainda não consegui explicar-me, mais vale calar-me de uma vez e deixar ao Reich o que ele soube dizer tão bem.

João Barbosa disse...

Não discordo de que se deve ler tudo. Tudo o que é bem pensado e estruturado, mesmo que seja para discordar.
Contudo, acho, que há por aqui uma certa confusão de conceitos entre cristianismo e catolicismo. Bem sei que o catolicismo representa mais de 90% dos cristãos portugueses e talvez a maioria dos cristãos, mas os termos não são sinónimos. Eu sou cristão e não sou católico e não me revejo na tirada nem em muitas das acusações que se fazem ao «cristianismo», porque esses ataques não são ao cristianismo mas a práticas ou ritos de facções.
beijos

Manel disse...

Meu caro, a tirada, como tu dizes, fala de poder, não de espiritualidade. E se não te revês é simples, não enfies a carapuça. Se reparares, a nossa Raquel, que até é católica e tudo, não a enfiou. Também as tuas tiradas ao longo desta conversa não são ataques ao comunismo, mas a práticas de facções. Nem por isso deixas de ser bem ilustrativo quando lanças essas mesmas tiradas.

O mais engraçado é que o Reich, ao escrever o que escreve, não faz mais do que defender a essência do cristianismo contra essas mesmas facções, esses mesmos ritos. Mas ou eu me expliquei mal, ou tu és muito difícil de agradar, rapaz.

João Barbosa disse...

pois, talvez seja isso. posso ter entendido mal. desculpa, então. bjs