quinta-feira, janeiro 25, 2007

Como queijo numa ratoeira

Tenho tido por política não ligar muito à campanha do não, nada de mais, acho apenas que os seus argumentos são altamente ofensivos para as mulheres e escuso de me chatear - e de lincar. Mas na montra da Loja de Ideias deparei com esta pérola e não resisti.

"Considerando que o contínuo e crescente número de cães abandonados que deambulam nas ruas do nosso concelho, não pode, de forma alguma, deixar ninguém indiferente. Muito menos as autoridades competentes nesta matéria. Considerando a situação degradante em que estes animais vivem e o sofrimento a que são sujeitos não se coaduna com uma sociedade moderna, solidária e atenta aos direitos de todo e qualquer ser-vivo. "
Este texto está no portal do Bloco de Esquerda e deve ser vivamente saudado como uma dissidência de bom senso naquela agremiação do Sim. Quem tanto desvelo revela para com os animais, quem tanta preocupação demonstra para com os seres vivos, independentemente de serem ratos, pintos ou frangos, não pode deixar de votar Não ao aborto, no dia 11 de Fevereiro...

No Blasfémias descobriram a pólvora, no Tomar Partido comentaram-na. E é uma observação de uma acuidade extraordinária!

A conclusão a tirar, portanto, é que todos os defensores do não são ferozes activistas dos direitos dos animais; touradas, então, nem vê-las! Certo? Não? Como não? Então este raciocínio parecia tão bem feito. Hã? Ah, demagogia?... Pois, pois, feita à maneira, como de costume...

Nos comentários a este post fala-se ainda do "não como alternativa". Confesso que me custa a entender como é que uma alternativa se consubstancia na não-mudança desta lei. Já dizia o Visconti, com o seu faro para o bafio, é preciso que as coisas mudem para que tudo fique na mesma. Mas neste caso parece que qualquer mudança, seja ela qual for, é o diabo. É preferível meter a cabeça na areia, portanto. É preferível continuar a mandar onze mil e tal mulheres por ano para os hospitais com o ventre e o espírito destruídos, para quem pode há Espanha ou Inglaterra, essas abjectas gomorras. E depois julgam-se umas quantas, manda-se-lhes que abram as pernas para averiguação do Estado, invade-se mais uma vez o corpo e o espírito, e depois fazem-se perguntas abusivas e íntimas na barra de um tribunal. E a seguir dormimos todos descansados, felizes com as nossas "alternativas" para defesa da vida.

5 comentários:

Siona disse...

Sou vegan e sou pelo sim. Mas, realmente, a haver quem tivesse direito de ser pelo não... era o pessoal vegan.
Mas a vasta maioria de nós é pelo sim, porque as Mulheres também são *gente*...

Manel disse...

É esse pormenorZITO que lhes escapa, minha querida...

MPR disse...

O Não é contra o aborto, o Não é contra quem abortar, o Não é contra as touradas, o Não é vegetariano, o Não é contra o atum em posta, o Não é contra a pasta de papel, o Não é contra as vacinas da gripe, o Não é contra a guerra, o Não é contra catar piolhos, o Não é contra o Sim, o Não é Não! O Não é pela vida, o Não é pelas andorinhas, o Não é pelas crianças, o Não é pelos papagaios de papel, o Não é pelos gatos de colo, o Não é pelo leite desnatado, o Não é pelas carochinhas, o Não é pelos filmes da Disney, o Não é Não! Não votar é não ser Não! Votar Sim é não ser Não! É não ir à missa, é cuspir nos pobres, é ser sádico, é ser Nazi, é ser Comunista, é ser sujo e porco e mau, é não ter moral, é não ter familia, é odiar toda a Humanidade, é não ser Não!
Vota Não, pela tua alma!

Manel disse...

Eu não tenho alma, ela enganou-se e encarnou no meu gato preto. Só deu as caras há cinco anos e vai durar bem menos do que este corpo ao lado do qual passou... e é por amar toda a humanidade que a humanidade toda me repele tanto.

MPR disse...

Espero que não... (sem duplo sentido). Seria uma enorme tormenta...