segunda-feira, novembro 27, 2006



Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas,que esperam por nós
E outras frágeis,que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens,palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras,surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.


Mário Cesariny, 1923-2006

10 comentários:

Anónimo disse...

A ausência faz-nos morrer...
Que herança tão grande nos deixam estes Homens:)
Beijos e abraços

Anónimo disse...

E com a sua ausência tudo fica sem dúvida mais cinzento e menos (muito menos) surrealista...que pena. Que perda.

Manel disse...

Perda sim. Pena não, que é bem menos do que ele merece. ;) Longa vida ao cadáver esquisito!

Aldina Duarte disse...

Eu acredito na eternidade aqui na terra, e para além dela, é lá que despertam ao terceiro dia os poetas e... outros igualmente humanos.

Até sempre

Vítor I. disse...

O que ele se tem rido, os pequenos seres da política embaraçados sem saber o que fazer, a insignificante ministra da cultura mandou um secretário ao funeral e o microscópico presidente da CML nem apareceu.
Grande Mário, mesmo agora continuas a repelir esses germes patogénicos!

Manel disse...

Foi o que eu pensei ao ver o telejornal ontem. Até pensei mais: este homem morre e a ministra está demasiado ocupada para comparecer ao funeral, isto deve significar que há qualquer coisa a mexer na cultura, caramba, só pode ser bom sinal. Depois lembrei-me de que tenho visto mexer na cultura, realmente, mas o que vejo mexer é um rabo de lacrau. As aparências iludem, é verdade... Mas nem todas iludem. Esta ministra, por exemplo, já não engana ninguém.

Anónimo disse...

Merda pra ela (desculpa lá dizer asneiras no teu blog) mas é mesmo assim! Pelo menos é como tu dizes - já não engana ninguém!Pelo contrário ontem n'A Barraca a homenagem foi discreta, sincera e emocionada.

Anónimo disse...

estação


Esperar ou vir esperar querer ou vir querer-te
vou perdendo a noção desta subtileza.
Aqui chegado até eu venho ver se me apareço
e o fato com que virei preocupa-me, pois chove miudinho


Muita vez vim esperar-te e não houve chegada
De outras, esperei-me eu e não apareci
embora bem procurado entre os mais que passavam.
Se algum de nós vier hoje é já bastante
como comboio e como subtileza
Que dê o nome e espere. Talvez apareça

Mário Cesariny, Pena Capital

Anónimo disse...

há palavras k abraxam-nos, qd às vexes td o resto falha...n era o meu poeta preferido mas é um grande Poeta k nos brindou c mts "palavras diamantes"e o xeu ar d miudo maroto e desdentado cativava-m, era um rebelde...por ixo viva cesariny viva!

Manel, voltei ao teu blogue pra t melgar, olha k xorte a tua hein? lol Bjokas

Manel disse...

És bem-vinda, como sempre. Apesar de me deixares vesga com essa escrita, rapariga...