Porto desabrigado
Não é límpido, o regresso. É difícil sossegar o coração, quando olhos se focam na paz para que nenhum malabar se estatele no chão e se transforme em lança de guerra. O tratado é recente, os ânimos ainda feridos recolhem-se no estômago, nas vísceras, nos recantos mais insuspeitos do cérebro. É duro substiuir muralhas por pontes levadiças. Mais duro é não substituí-las. A gestão das pontes dá trabalho, mas tem retorno. Já as muralhas são em si mesmas íman de canhões, passeiam-se em teu redor conjurando o ataque, encontram-se, justificam-se no ataque. São ingratas. E sofrem. Sem retorno. Perdendo a lição. Escoando a vida. O seu tempo passou. A gleba recusa o feudo. Sabe que chamar-se invicta seria uma negação de si mesma, uma negação em si mesma. E a pedra escura também o sabe, e retribui a lealdade com uma doce carícia rugosa na palma da mão.
São Bento da Vitória, Porto
Novembro de 2006
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9 comentários:
Beijo saudoso
Cheguei de lá há 4 dias e como eu entendo a saudade que de lá trago comigo... o Porto é uma memória de coragem inesquecível, que nos deixa de sorriso parado ao canto da boca e dum olhar mais profundo!
Até sempre
Ho, Ho! Acho que descobri quem é o Manel...! Stravinskys não é verdade? Já tem poeira, um calhamaço de poeira! Tenho-o cá há 3 milénios! Mas há novos musicoles, se os há. Tenho um novo do Ali Farka, um regalo.
Aos anos hã? Quando vens cá?
...
Decididamente, cheguei a um consenso. Não te via ainda há mais tempo do que pensava. As mãos são muito parecidas nas duas. O J. estava lá sem que o visse. Foi difícil. Diferente estás, mui. Desde os anos da Amora entonces, aos anos.
Ainda fazes aquela expressão do cantiga do susto?
Eheheh... agora tenho um leque ainda mais amplo de expressões. ;)
um off-topic pagão. já viste a votação que o Luis Rei está a fazer no Crónicas da Terra?
http://cronicasdaterra.com/cronicas/?p=298#comments
achei que os manéis eram capazes de lhe achar piada.
de cada vez que volto ao porto, sinto-lhe o granito mais escuro e pesado do que da vez anterior.
Talvez porque assim esteja, meu caro...
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