sábado, novembro 21, 2009

não me apetece.

dizer que está a chegar ao fim. não o amor. só o mês. dizer que tenho tanto dia em cada dia que a noite nunca teve tanto silêncio. dizer que o amor em volta ecoa mais que os passos. não me tem apetecido, pronto. dizer que não tenho mãos para contar as pessoas os olhos os peitos que se me abrem, na rua uns, em casas outros, ou nas distâncias em que os irmãos, em que os amores profundos não se deixam morrer. não ando para aí virada. para contar que fez um ano que me casei com uma luta que sempre foi minha mesmo antes de se oficializar tão duradouramente. que sempre fui euoutrx antes de estar entre nósoutrxs. que um follow é mais uma contracena e que metade do palco está dentro de quem entra nele. que se canta como se fala e se fala como se ama e sofre e ri. não me sai, não estou para me esforçar. para dizer que fez um ano também que a Frika morreu. e que um ano depois a Valeria me disse quase casualmente, numa conversa entre a madrugada de Lisboa e a tarde porteña, que dias depois da despedida lhe apareceu uma bebé abandonada que cuidou até à adopção e a quem chamou Frika, lembrando-se daquele bichinho que nunca viu e que do outro lado do grande charco se tinha esvaziado com o dente ferrado no meu braço direito e as minhas lágrimas por cima. não me apetece dizer que passou um ano e a marca quase já não se vê. e que a Valeria me pôs a chorar frente ao écran, cheia de uma estranha felicidade, a pensar numa gata viva chamada Frika algures em Buenos Aires. não me apetece, pronto, dizer que a Noa ainda nem percebe bem como é que já vai para o segundo inverno de conforto e é tão minha quanto eu sou dela e no entanto o lugar continua vácuo, a falta permanece, a usurpação é impossível, o espaço sobrepõe-se, partilha-se e assina-se com um miar doce e um olhar de mel amarelo. não me apetece dizer que, ao fim de mais de um ano sem parar e a uma velocidade quase descontrolada, vou finalmente pirar-me daqui e olhar para o céu à espera de ver sobre Montmartre a neve que nunca há-de vir. não me apetece dizer, estou preguiçosa, pronto.



Talking Heads - Naive Melody (This Must Be The Place)

aCreationMonster | Vídeo do MySpace

6 comentários:

catarina disse...

São estes textos que me tocam tanto, mas tanto...
:)

Teresa disse...

gosto que digas o que dizes quando estás preguiçosa... deixa de ser um pingar para ser um largar.

e gosto de ti. *

(e ainda gosto de gostar)

Manel disse...

:)

gosto de vocês duas.

K. disse...

Nao digas nada. Quando estiveres lá em cima em Montmartre verás que às vezes nao é preciso dizer muito. ;)

Manel disse...

:)

alien aboard disse...

K o amor nunca xegue ao fim, kuando td o mais acaba (c/ a inevitável erosão dos dias, dos meses, dos anos) ele resiste, às vezes como um velho adolescente incoerente às voltas c/ os seus sonhos sem cabimento, mas existe e só acaba c a data do noxo fim...

E Manel, um final de tarde em Montmartre, c/ ou sem neve, é smpr lindo...um dia tb volto lá, aos sítios onde julgo k fui mt feliz

bonne voyage mademoiselle;)