segunda-feira, agosto 23, 2010

via sacra



Espiritualidade. É do que se trata aqui. Confúcio, vai-te catar! Bagavadguitá? Deves... Kierkgaard, és um amador. Isto é que é. Que senhora tão bonita. Vamos ajoelhar-nos e dizer palavras que não percebemos para enganar a fome. Olha, passa aí esse cogumelo...




Saudável não quero ser apanhada. Se melhorar quero-a outra vez. Se isto fosse um painel de uma seita qualquer, já estavam presos. Isto é doentio, abusivo e um incitamento ao suicídio infantil. Sem ponta de vergonha na cara. Os abusos infantis não são de ontem nem apenas sexuais.




E os números. Reflexo da "Mensagem de Fátima" no mundo. E agarrar na caneta e escrever no livro de visitantes: Os números apresentados como a Mensagem de Fátima, fazem-se pensar nas áreas de serviço como manifestações da Mensagem da Galp. É vergonhoso brincar e manipular assim a espiritualidade de milhares de pessoas, nomeadamente de crianças. Se Cristo descesse à Terra começaria por expulsar-vos do Templo.

Só depois me apercebi que este seria o discurso de um evangélico, e assim terá parecido se alguém lhe passou os olhos por cima. Coisa que eu não sou, evangélica ou cristã, pelo menos não no sentido confessional do cristianismo. Mesmo assim, tremi ao escrever e estava no meu direito, e esqueci-me de assinar. Prova do profundo que está enterrado o mal feito por esta multinacional tentacular, nem os ateus se escapam. Ou citando o RAP, eu sinto muita culpa, e a culpa é deles.

blue blessed skies.

férias de fazer nada, depois de um ano de tudo. água, serra, uma égua grande e meiga. e a tentação ali ao lado. vá, 'bora lá, vamos a Fátima.

pois...

segue o resultado. quase que tive de ser arrastada de lá para fora, antes que batesse em algum dos pais que mostravam às suas crianças como ser santo é ser ignorante, passar fome e querer morrer. só um cego olha as fotos daquelas crianças e não percebe que o céu que sonhavam tinha de ser uma coisa melhor. só podia ser uma coisa melhor. o abuso infantil é na ICAR algo espontâneo, e tão eficaz que na altura no país inteiro morto de fome física e mental, se multiplicavam as visões. foi uma espécie de bazar, os santos homens de saia tiveram uma abençoada escolha. foram estes, Francisco e Jacinta, talvez porque com a outra que morreu anafadinha e no quentinho faziam a conta que deus fez. talvez apenas porque sim. sempre achei que o terceiro segredo era que os dois primeiros eram mentira. agora começo a achar que temos todos o terceiro segredo cá dentro, no recanto mais escuro e mais sujo.




o joelhódromo da Cova da Iria
Agosto de 2010

quinta-feira, agosto 12, 2010

al aire

para a serra, ala. das serras ainda poupadas pelo fogo... lá para cima há mais para arder.

mas para não pensarmos demais em coisas tristes (fui eu que disse esta frase? fui. hoje não me apetece laborar sobre isto), deixo-vos com o rei das portas do sol. não fosse o vento, e seria perfeito. o momento em que a coisa fica assim um bocado mais tremida deve-se a uma explosão do riso contido: por volta do minuto de filme já me corriam lágrimas dos olhos e os soluços de riso estavam verdadeiramente difíceis de controlar. no fim dei-lhe um euro, claro, era o mínimo.

quem quiser que aproveite e faça um pps para mandar aos amigos a dizer que se não o passarem a dez pessoas vão morrer afogados no Tejo.


Portas do Sol, Lisboa
Agosto de 2010

segunda-feira, agosto 09, 2010

variações sobre a estática

pela primeira vez em anos, perna de fora e calor. variações sobre a estática, seis laptops, vídeo e depois uns instrumentos primitivos cá à frente. som no espaço, o electro e o acoustic, pensei bem, acho que nenhum ganhou. ou os dois. o mcferrin do clarinete baixo, o poder do colectivo que ouve só um porque se ouvem todos. as cordas, bom, pu-las um bocado fora do meu campo. estavam irritantes ou eu estava irritável. não, estavam irritantes. eu estava num qualquer espaço de conforto entre o calor e a estática. e a lua nova.


Evan Parker E-A Ensemble, Agosto 2010
trompete—Peter Evans
shô—Ko Ishikawa

domingo, agosto 08, 2010

sexta-feira, agosto 06, 2010

eden itself.

janela sobre a palavra/2

A letra A tem as pernas abertas.
A M é um sobe-desce que vai e vem entre o céu e o inferno.
A O, círculo fechado, asfixia.
A R está evidentemente grávida.
Todas as letras da palavra AMOR são perigosas — comprova Romy Diáz-Perera.
Quando as palavras saem da boca, ela as vê desenhadas no ar.


Eduardo Galeano, Mulheres

quinta-feira, agosto 05, 2010

e eu para aqui a pensar...

... que há muitas formas de se lidar com a coisa. e que algumas se forçam. por exemplo, não enfrentar o agressor e ir agredir para outro lado e depois recusar a culpa e dizer para si, avancei. é a entrada no círculo negro e a recusa da consciência. às vezes é irreversível.

... outra é escolher demasiado os oponentes. e fazer da cobardia uma sublimação da inteligência, em vez de apurar a estratégia. eu escolho os meus mestres. os oponentes às vezes escolhem-me a mim.

... outra é dizer que a estratégia é maligna e preferir o martírio que alimenta o mal em volta.

...



deve haver mais. nenhuma final ou corredia. mas mais.



Consolação, São Paulo
Julho de 2010

quarta-feira, agosto 04, 2010

bom dia!

Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-lhe ele nessa altura Luiz
decerto fui com Ísis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco-íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos

Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais rimará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores da morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhes como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal


Mário Cesariny de Vasconcelos, A voz numa pedra

you ain't foolin' nobody with the lights out!




de todas, diz que sou esta. não me espanta. vá, agrada-me. ainda me agradará mais comprar os bilhetes para novembro. nothin's hid, from us kids!

terça-feira, agosto 03, 2010

fica um furo,

um furinho só por onde passa o vento e o vento levantou-se hoje sem ti. fica a janela fechada porque o calor desapareceu e de repente não está o fundo daquela respiração no ouvido a mascarar os autocarros da madrugada. fica espaço. mais espaço mais gatos. quando vais é quando mais ficas.

hoje fui ver como se toca o ar.

sábado, julho 31, 2010

but long it could not be till that her garments, heavy with their drink, pulled the poor wretch from her melodious lay to muddy death.


John Everett Millais, "Ophelia" (Elizabeth Siddal)
Tate Gallery


Gower Street, 1852
Lizzie entrou na minha vida muito cedo, sem que eu a conhecesse pelo nome. Era Ofélia e, nos meus dezasseis anos, já eu amava a quantidade de poder que se disfarça numa morte erotizada. Parti pela mão dela para o texto, o que fez com que nunca usufruísse inteiramente de
Hamlet. Fiquei sempre na margem do ribeiro e o fim não me deixava começar. O tempo da tragédia convergia com velocidade para aquela imagem e então parava, como a suicida. Lizzie Siddal flutua numa tela e Ofélia é sustentada à superfície sem que as águas deslizem, sem que o resto do que acontece ao afogado ocorra.

Hélia Correia, Adoecer, Relógio d'Água



ganhei um codinome: Beija-Flor.



vindo de uma cidade onde vi um beija-flor (pela primeira vez ao vivo) a fazer uma dança só para mim, de vários minutos. e eu, parva, de máquina na mão e sem reacção. e eu, miúda, de boca aberta e coração iluminado. e eu em Sampa, também em Sampa, em casa. e quanto aos beija-flor, aprendi uma coisa: num dia da tua vida nunca os viste, no outro estão por todo o lado.

quarta-feira, julho 28, 2010

Carandirú.



às três.

às três são onze. são três mas no corpo... as pernas cá, o coração ainda lá, corra embora o sangue deste lado do charco. ainda canto, ainda exalo mamão e abacaxi com hortelã, ainda sinto a garoa. pan américas de áfricas utópicas túmulo do samba mas possível novo quilombo de zumbi, até logo, até mais. escuita, nóis vorta, nóis vai vortá.



terça-feira, julho 27, 2010

ocê travessou contra-mão.

de lembrança guardo somente suas meias, o seu sapato. Iracema... eu perdi o seu retrato.

Estação da Luz: Sampa, dia 1

Museu da Língua Portuguesa sabes que a língua é tua quando tudo nela te faz chorar de erro e acerto. menas é mais. e nós vai sambar. (se há sítios especiais feitos no mundo pela mão humana, ESTE é sem dúvida um deles.*)

starting over Blue!

segunda-feira, julho 05, 2010

hoje, às 18h, todos ao Maria Matos.


O anunciado corte de 10% dos apoios do Ministério da Cultura já contratualizados com todos os agentes culturais decorre da cativação de 20% no orçamento do MC. No entanto, o orçamento do MC tem vindo a ser reduzido de forma drástica nos últimos anos e é um dos mais baixos da Europa. Apesar disso, o trabalho dos agentes culturais tem um impacto positivo crescente na economia portuguesa. Os agentes culturais têm criado cada vez mais riqueza, o que torna as estruturas e trabalhadores da cultura num exemplo de solidariedade com as dificuldades económicas do país e de sucesso no esforço de crescimento com que Portugal é hoje confrontado. Neste sentido, os cortes anunciados são profundamente injustos.
A Senhora Ministra Gabriela Canavilhas considera os cortes anunciados “uma redução de uma pequena parte das verbas”. Trata-se, é certo, de uma parcela residual no esforço global que é exigido a todo o país. No entanto, dada a precariedade do meio cultural e artístico, tal como a ausência de protecção social dos trabalhadores desta área, qualquer redução das já parcas verbas atribuídas aos agentes culturais tem um impacto tremendo e fará entrar em recessão uma actividade que está em crescimento. Ou seja, cortar pouco dinheiro numa actividade que já tem muito pouco, tem efeitos mais graves do que cortes iguais em actividades onde os apoios são muito mais significativos. Neste sentido, os cortes anunciados são desproporcionais e desiguais. São também ineficazes, uma vez que causam estragos irreversíveis no tecido cultural e artístico. Diversos projectos serão cancelados sem grandes benefícios no combate ao défice, uma vez que, como a própria titular da pasta assume, são “pequenas” as verbas resgatadas. É, assim, em nosso entender uma medida incorrecta que não defende nem o esforço de redução da despesa pública, nem a população portuguesa nem os agentes culturais.
O corte de 10% de todos os apoios estatais aos agentes culturais de todas as áreas é anunciado pela Senhora Ministra da Cultura como a “única forma” de assumir compromissos anteriores e novos financiamentos para 2010. No entanto, a tutela esquece-se de mencionar a total ausência de informação por parte da Direcção Geral das Artes em relação aos apoios anuais e pontuais já atribuídos e por atribuir. Estes cortes são anunciados num momento em que os atrasos nos concursos e a total ausência de comunicação por parte do MC, tinha já lançado o tecido artístico e cultural num impasse impossível de suportar.
Ainda que se entenda que, num conjunto de medidas de restrição orçamental em todos os sectores, o Governo não queira criar nenhuma situação de excepção que pudesse descredibilizar perante a opinião pública o conjunto dessas medidas, também nos parece inaceitável que os cortes no financiamento se transformem, no caso da produção cultural, em medidas de penalização de um sector que contribui generosamente para uma valorização do país contando apenas com verbas de apoio Estatal extremamente reduzidas. E muito menos aceitável que as medidas possam ter carácter retroactivo, obrigando os produtores culturais a pagar ao Estado verbas que já gastaram e que acreditaram que lhes tinham sido atribuídas, destinadas a viabilizar projectos de utilidade pública. Tais medidas retroactivas viriam a pôr em causa a própria boa fé do Governo aquando da atribuição dos apoios, como se afinal não julgasse essas verbas necessárias.
Também é difícil de aceitar que o próprio Ministério da Cultura desconheça os mecanismos de produção e não entenda como em tantos casos (os mais organizados), baseados nas anunciadas e tantas vezes já contratadas atribuições de apoios, será impossível voltar atrás na programação prevista e cancelar compromissos já assumidos com terceiros.
Dado que no orçamento geral do Estado as verbas destinadas à Cultura pesam afinal tão pouco e que os produtores culturais tanta generosidade têm demonstrado trabalhando com verbas tão escassas para a valorização cultural do país, (e uma breve comparação com os custos de produção de outros países europeus imediatamente o confirmaria), julgamos que seria indispensável uma mais profunda revisão das medidas de restrição anunciadas pela Senhora Ministra da Cultura.


PLATAFORMA DO TEATRO

Ar de Filmes
Artistas Unidos
Barba Azul
Casa Conveniente
Chão de Oliva
Joana Teatro
Mala Voadora
Mundo Perfeito
O Bando
Primeiros Sintomas
Qatrel
Teatro da Comuna
Teatro da Cornucópia
Teatro da Garagem
Teatro da Rainha
Teatro do Vestido
Teatro dos Aloés
Útero

sexta-feira, julho 02, 2010

estes sábado e domingo, às 21h, no CCB.



porque apesar de tudo o amor ainda tem lugar neste mundo.
quase tanto como o poder. com f.







Criação TEATRO PRAGA (ANDRÉ E. TEODÓSIO | CLÁUDIA JARDIM | JOSÉ MARIA VIEIRA MENDES | PATRÍCIA DA SILVA | PEDRO PENIM)
Direcção musical MARCOS MAGALHÃES
Iluminação DANIEL WORM D’ASSUMPÇÃO
Som RICARDO GUERREIRO
Realização vídeo ANDRÉ GODINHO
Cenários BÁRBARA FALCÃO FERNANDES
Maquilhagem JORGE BRAGADA
Produção BRUNO COELHO, CRISTINA CORREIA, SARA MAURÍCIO
Assistência JOSÉ NUNES

Com ANDRÉ E. TEODÓSIO | CLÁUDIA JARDIM | DIOGO BENTO | JOANA BARRIOS | JOANA MANUEL | MIGUEL VEIGA | PATRÍCIA DA SILVA | RODOLFO TEIXEIRA
Solistas ANA QUINTANS | JOÃO SEBASTIÃO | NUNO DIAS | ROSSANO GHIRA Coro GRUPO VOCAL OLISIPO
Artistas convidados ANA PÉREZ-QUIROGA | CATARINA CAMPINO | JAVIER NÚÑEZ GASCO | JOÃO PEDRO VALE | LEO RAMOS | ROGÉRIO NUNO COSTA | THE END OF IRONY (DIOGO LOPES, IVO SILVA, MIGUEL CUNHA, RICARDO TEIXEIRA E RITA MORAIS) | VASCO ARAÚJO | VICENTE TRINDADE
Equipa de filmagem CLÁUDIA MORAIS | FRANCISCO MOREIRA | JOÃO MARTINS | LEONOR NOIVO | NUNO MORÃO | TIAGO OLIVEIRA