sábado, julho 31, 2010

but long it could not be till that her garments, heavy with their drink, pulled the poor wretch from her melodious lay to muddy death.


John Everett Millais, "Ophelia" (Elizabeth Siddal)
Tate Gallery


Gower Street, 1852
Lizzie entrou na minha vida muito cedo, sem que eu a conhecesse pelo nome. Era Ofélia e, nos meus dezasseis anos, já eu amava a quantidade de poder que se disfarça numa morte erotizada. Parti pela mão dela para o texto, o que fez com que nunca usufruísse inteiramente de
Hamlet. Fiquei sempre na margem do ribeiro e o fim não me deixava começar. O tempo da tragédia convergia com velocidade para aquela imagem e então parava, como a suicida. Lizzie Siddal flutua numa tela e Ofélia é sustentada à superfície sem que as águas deslizem, sem que o resto do que acontece ao afogado ocorra.

Hélia Correia, Adoecer, Relógio d'Água



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