quinta-feira, maio 06, 2010

o pano preto na varanda



CONDICIONANTES CERIMÓNIA NO TERREIRO DO PAÇO:


07 de Maio (22h) a dia 12 de Maio (00H00) – Trânsito irá ser encerrado na Av.

Ribeira das Naus/Av. Infante D. Henrique, entre o Campo das Cebolas e

Cais do Sodré.


11 de Maio (07H00 às 20H30) – Trânsito encerrado nos seguintes locais:

Rua Cais de Santarém

Av. Infante D. Henrique

Av. 24 de Julho

Praça dos Restauradores

Largo de Camões

Martim Moniz


11 de Maio (07H00 às 21H00) – Cortes e condicionamentos de trânsito:

Cais do Sodré – Trânsito cortado desde o dia 7 de Maio

(montagem palco) e será condicionado e desviado para a Rua da

Misericórdia;

o Alternativas – Av.ª 24 de Julho, Rua do Alecrim e Rua

Cintura do Porto de Lisboa;

Av. Liberdade

o Alternativas - Lateral descendente até à Praça da

Alegria, Príncipe Real, Rua da Misericórdia e Cais do

Sodré, Rua da Escola Politécnica e Largo do Rato

Rua da Prata – Trânsito encerrado

o Alternativas - Rua da Madalena em direcção ao Largo do

Martim Moniz

Rua Cais de Santarém – Trânsito cortado e desviado para a Av.ª

Infante D. Henrique para inversão;

Av. Infante D. Henrique – Trânsito fortemente condicionado e

desviado para artérias alternativas em Santa Apolónia e Viaduto

Mouzinho de Albuquerque (à excepção dos autocarros que vão até

Santa Apolónia);

Largo da Madalena – Trânsito fortemente condicionado e desviado

para a Rua da Madalena em direcção ao Martim Moniz;

o Alternativas – Largo do Martim Moniz, Rua de S. Lázaro

e Almirante Reis;

Largo do Martim Moniz – Trânsito condicionado e desviado no

início da Rua D. Duarte para Norte;

o Alternativas – Calçada de Santo André, Rua da Palma e

Rua de S. Lázaro;

Largo do Camões/Rua do Alecrim – Trânsito condicionado e

desviado para a Calçada do Combro e obrigado a inverter (à

excepção dos autocarros que vão até Cais do Sodré);

Av.ª 24 de Julho – Trânsito condicionado e desviado para a Av.ª D.

Carlos I (à excepção dos autocarros que vão até Cais do Sodré)

o Alternativas - Rua da Boavista e Rua de S. Paulo


da nota de imprensa do comando metropolitano da PSP Lisboa.


Isto é só o bocadinho relativo à missa no Terreiro do Paço. A nota tem oito páginas onde muita coisa vem descrita —nomeadamente as honras militares, que eu suponho que consistam em pôr os soldados a darem a outra face aos oficiais superiores. Ora acontece que recebi esta nota hoje em pdf ao mesmo tempo que uma ciberdiscussão crescia, e não posso deixar de notar em alguns católicos uma certa vitimização que não pode pegar quando se defende tamanho poder, tamanha imposição. Acontece que é verdade que o alvo a bombardear é o Estado, a República Portuguesa, mas também a ICAR, a instituição e a hierarquia. Acontece que um chefe de Estado só é assim recebido se for o nosso chefe de Estado, se for um herói e, sobretudo, se vivermos uma situação excepcional ou, hélas, uma ditadurazeca. E um líder religioso usa dos próprios meios da sua assembleia para espalhar o seu evangelho. E faz as missas no seu património, que não é pouco, ou vai para o Pavilhão Atlântico como o Dalai Lama, ou para o estádio do Restelo, como em tempos foi o Papa anterior. Mas isso deve ter sido um lapso, demasiada proximidade ainda do PREC, vulcão que apesar de tudo largou cinzas no ar. Hoje aqui temos o papa-tudo, o melhor de dois mundos, o poder terreno e a imunidade divina.

Acontece também que o poder desta espécie de chefe de estado cujo reino não é deste mundo mas pelo sim pelo não tem um Banco próprio e uns Prada no armário, é trágico e de todos nós, é histórico e tirânico e generalizado. Está dentro das nossas cabeças, está em tantos dos nossos medos, em tantos buracos, em tantas patologias. Não estou a falar da doutrina de Cristo. Não estou a falar das pessoas que com ela no coração foram fazendo, e continuam a fazer, o contraponto da história dos poderes, quer de fora quer de dentro —e são muitas, benza-as o seu deus, eu por elas agradeço. Não estou a falar dos percursos interiores, da fé, da procura. São coisas que respeito, e que em muitos casos aprecio, nos católicos como em todos os seres humanos. Mas não vamos enganar-nos: quando falamos da instituição ICAR não é da doutrina de Cristo que falamos, é de um poder terreno, secular, não-eleito, tirânico e fundamentalista. Obscurantista. Há menos de 40 anos ainda aqui determinava legalidades e ilegalidades, ainda misturava os seus sacramentos na organização do Estado. Há três anos ainda queria continuar a determinar as escolhas que eu podia ter sobre o meu próprio corpo até às dez semanas de uma gestação, como se o meu ventre não fosse eu, como se eu não fosse ninguém. Ainda não desistiu, ainda tem esperança de conseguir voltar atrás. Hoje, pouca prudência ganha, continua a dizer que os meus amigos homossexuais não têm relações de pleno direito e as suas famílias não existem face ao Estado de todos nós. Não vale a pena falar muito sobre a protecção de pedófilos, o corte total e abjecto de confiança quando é a confiança mais íntima que exige aos fiéis. Direi apenas que é por tudo isto que dentro de poucos dias um pano preto adornará a minha varanda. Um bem grande. E bem negro.

Não posso fugir ao Stephen Fry: a Igreja Católica não é uma força do bem no mundo. E nós recebemos o seu líder como se fôssemos seus súbditos. Para alguns, dizer isto é atacar o Papa porque somos anti-clericais, porque tudo serve para zurzir, porque se é radical. Para mim, não o dizer é ser cúmplice e contribuir para enfraquecer a República e o Estado Laico em que a minha Constituição diz que vivo. E eu fico estupefacta, confesso, que se considere admissível o aparato e o transtorno generalizado com que esta visita se apresenta sem se acreditar realmente que é ali que reside A Verdade. E quanto a isto, nada posso acrescentar, senão que teria de agradecer às pessoas que pensam assim, se assim o pensam de facto, a condescendência de serem minhas amigas.

Isto não é um assunto qualquer. Isto é um assunto nosso. Tanto meu, ateia praticante de antenas no ar, como de qualquer católico. Tu, católico, entras na igreja pelo teu pé. A mim, arrastam-me. Mas arrastam mesmo, desde a nascença. Não te esqueças disso quando comigo discutires este assunto que te pode parecer só teu. Eu não estou de fora a bombardear. Estou presa dentro a dizer que quero sair.


AQUI, católicos ou não, assinem a petição Cidadãos pela Laicidade.

4 comentários:

J. Jarego disse...

Amen. Brilhante. Não diria melhor. Lido e devidamente partilhado.

Manel disse...

esta discussão está constantemente a ser feita ao contrário, parece-me. começo a ficar cansada de ser encarada como agressora quando sou eu que levo porrada com a cruz desde que nasci. ;)

partilha à vontade.

alien aboard disse...

eu assinei a petição mas hj no comboio ao ver a cara feliz e cansada de tanta gente ke partiu em romaria pa Lx pa ver o Papa fez-me aperceber ke fui uma parva egoísta...mas ixto sou eu ke a esta hora ando c a sensibilidade à tona da pele e a kestionar-me em tantas coisas minhas...enfim desabafos duma alien among aliens i guess :)

Manel disse...

o cu não tem nada a ver com as calças, minha querida, as pessoas podem romar à vontade, não é isso que está em causa...