quinta-feira, novembro 08, 2012

ne cherche pas l'absolu. il est en toi comme un ravin de sècheresse qui te perdra.

A finitude
é preciso aprender a lidar com a finitude
eu preciso de aprender a lidar com a finitude
o finito e o fininho e o concreto e o definido
o definito
mete o medo no fim do medo
mete o medo no fim de tudo
mete o medo no olho

A finitude, o limite
ou passearei a vida a tentar
cruzar o que não está lá
quebrar o que não desenhei
enfrentar o que não vi

A finitude. O traço.
O desenho.

(e eis porque o ensino devia ser mais genérico, quando não desenho, dou-me demasiado às palavras)


O limite
não a fronteira.

sexta-feira, maio 11, 2012

surreal sidewalk

O Bernardo não era deste planeta. Perguntei-lhe pelo menos uma vez de onde vinha realmente, ele que andava aqui claramente a enganar-nos a todos, mas ele riu apenas e não me quis dizer. Ria muito. E bem. Acho que me lembro de todas as conversas que tive com ele. E daquela sensação que ficava sempre no fim de o ouvir falar, rir ou tocar, esta certeza de que vale mesmo a pena andar por cá, de que tudo é um encantamento à espera de ser escutado, desenhado, fotografado. Mexido com os dedos. A morte do Bernardo é absurda. É estúpida. Mas foi na falésia, onde os passos dele sempre fizeram sentido.




Goin' alone, life is your own | But sometimes the cost is dear. | Being complete, knowing defeat | Keeping on from year to year. |  It takes some doing. | Monkery's the blues you hear | Keeping on from year to year. | Life is a school, 'less you're a fool | But the learning brings you pain. |  Knowing at once you're just a dunce | Trial and error, loss and gain. | It takes some doing | Monkery's a slow, slow train | Trial and error, loss and gain.


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terça-feira, abril 03, 2012

segunda-feira, abril 02, 2012

a Flober

estava na caixa de cartão, debaixo da cama dele. os chumbos cuidadosamente guardados à parte. latas bem longe de qualquer ser vivo, com ou sem raíz, e alvos desenhados em contraplacados e outros pedaços de entulho. o pequeno coice tão grande para os meus treze anos, a mão dele sempre no meu ombro. e aquela vez em que decidimos que agora é que era, íamos comer passarinhos... mas eles estavam vivos, nos ramos, nos ninhos, voando. e voltámos para as latas.




dia das mentiras. o da morte do Mário Viegas e o dos cravos vermelhos levando o meu pai para o mar. 16 anos de um, 1 ano de outro. e a cabeça cheia de palavras e música de uma velha cassete de crómio nomeada, naquela letra inconfundível, "selecção Manéis".

domingo, fevereiro 26, 2012

sabemos tanto que é estranho.

sei que o genocídio económico não é uma metáfora e que na sua maioria os alemães concordaram
com a guerra embora desconhecessem
os fornos. sei que muitos portugueses
ainda acham que o santinho de santa comba é que era, mesmo que não fosse, mas enfim,
pelo menos era honesto
e outros epítetos erróneos que se lhe atribuem,
como sério,
e que hoje até suspiros de comoção se soltam à audição da palavra
austeridade.
e sei que muitos outros portugueses colaboraram em massacres em África
com poucos pares no horror em todo o mundo,
talvez no Cambodja. e que em cada esquina havia um bufo.
para onde foram?
e também sei que os franceses reuniram os judeus
para os expedirem para os campos ainda antes de lhes ser pedido e que no fim,
na reconciliação,
afinal eram todos resistentes
e as únicas punições foram para as mulheres
que dormiram com alemães. a única punição foi para o amor.

sabemos tanto acerca de nós que é estranho que ainda nos conheçamos tão mal.

segunda-feira, janeiro 09, 2012

para quem ainda não nasceu e para o meu pai, que não se fez papoila, mas onda do mar.


‎It's Sunday morning, a morning of hangovers. The whole hotel seems suspended in the air. We ask her to get to the bar, to make it sing for her, to sing for her son (for whom she had written this song). We erase ourselves. She, she doesn't. After we're done filming, I cry. She cries too.