segunda-feira, setembro 29, 2008

com luz, não dá...

O órgão lá ao fundo, por detrás do altar coberto pela toalha branca. Entre o ranger dos bancos a cada movimento de rabo desconfortado —e ainda eram uns quantos rabos—, os sussurros de quem é capaz de aguentar o desconforto da madeira patriarcal apenas para ir trocando banalidades enquanto lá ao fundo se toca muito bem música genial, e a sola de borracha que umas doc pretas não se cansaram de esfregar no chão de pedra bem perto do meu ouvido. E tudo isto potenciado por na Sé não deixarem que o sol se ponha enquanto houver vivalma presente, uma luz amarela, perscrutadora, impertinente, que forçava os olhos a fecharem-se buscando a relapsa concentração. Hans Ola-Ericsson conversou com o público antes de se resguardar entre as cátedras bispais. Eram meditações, o que íamos escutar, do místico génio que se considerava, antes de tudo, ornitólogo, depois escritor de ritmos e só por último compositor de música. Meditações, senhor? Só se for pelo desafio à paciência, que o desespero de ouvir Messiaen com aquela luz faz com que a única atitude possível seja a de beata, inclinada sobre o banco vazio da frente para aliviar os rins —cenas de gaja— e os ouvidos dos sussurros nas minhas costas, os braços inquietos a evitar as mãos postas, os olhos fechados, a cabeça baixa. Ou isso, ou nem um cheirinho de Meditações, quanto mais da sAntíssima tRindade. Mas sim, pronto, meditação. Porque foi um exercício zen, sem dúvida. É que, caramba, há coisas que não devia ser preciso dizer... Antes às escuras, está bem? Ou com uns archotes. Pensem nisso...


*agradecimentos e engraxamentos ao meu JL, pelo plágio... ;)

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