domingo, março 28, 2010

o mundo cabe nos filmes que são para o mundo.


Susana de Sousa Dias, réalisatrice de "48", lauréate du Grand Prix Cinéma du Réel


O Grande Prémio do Festival Cinéma du Réel (@Pompidou) foi ontem atribuído a Susana de Sousa Dias, pelo filme "48", estreado em Outubro passado no DocLisboa. A tortura, o corpo, a imagem, o som, a ausência, a metrópole e as colónias e histórias de uma ditadura que um país assente na brutalidade escondida insiste em dizer que foi branda.


Só uma nota: 48 tem o número do fatalismo português, tem os rostos e as vozes de sobreviventes —não, não sobreviveram todos ao tal brando ditador que nos protegeu do ar fresco, do tempo que se move e do comunismo—, mas longe de ser um filme político, 48 é uma grande obra documental que não é, não podia ser, apolítica. Nos grandes filmes cabe muito mundo.


quinta-feira, março 25, 2010

don't hit kiss.




ficas de amuleto. vinhas em mim, ficas de amuleto. de amuleto contra camiões que engancham na minha porta e me levam de rojo e em alta rotação auto-estrada fora. o monstro branco encostado à janela e as minhas mãos abertas e o coração que nem sequer salta só diz pronto, foi giro mas acaba aqui. de amuleto contra pessoas que te paternalizam e diminuem quando estás em choque por teres visto o negro passar junto dos teus olhos, entro, não entro, não, ainda não me apetece. de amuleto contra guardas republicanos misóginos e ineptos que deixam crescer a tromba uns quantos metros porque, apesar de tudo, não estás a deixar que te dêem a volta. e as trombas cresceram e cresceram e cresceram. de amuleto contra um país onde em vez de apoio numa situação limite, tem~se mais um teste à força mental e à capacidade de sobrevivência no meio de machinhos armados ao machão. é assim que se cresce, afinal, não é? é assim que se fazem homens, caralho! (acabo de cuspir para o chão)

mesmo que batam ficas de amuleto. como um beijo. como todos os beijos que me armam e rearmam todos os dias para a próxima que vier.

ser gaja é fodido. mas estar a dormir é pior. eu tenho a morte toda para dormir.

hoje, a passear por imagens antigas, apaguei-te a sombra.

domingo, março 21, 2010

adenda.

fora do direito ao casamento estão também, claramente, mulheres que decidam que não querem filhos, essas grandes putas contra-natura. homens que não queiram ter filhos já não, desde que escolham boas e recatadas esposas que lhes consigam dar a volta e/ou aldrabar dizendo que a pílula falhou e o DIU caíu no banho.

hmpf, esta gente agora tem a mania que vive em democracia, qualquer dia até querem votar...

revisão da matéria dada (eu diria mesmo Dada) — o casamento sem filhos biológicos é inconstitucional

União civil registada para casais inférteis, mulheres que já passaram pela menopausa e homens impotentes, já que o casamento destas pessoas que não vão "propagar a espécie" é claramente inconstitucional. E casais sem filhos não são famílias, assim como casais com filhos mas em união de facto também não o são. É assim, professor?


(p'ra quem não se lembre, também este doutor Diogo defendia o "crime sem castigo" para quem abortasse, teve foi mais sorte que o doutor Marcelo e já estava caladinho — e no governo, por coincidência — quando o Ricardo Araújo Pereira entrou na liça. mas nem tudo é mau, pelo menos não tem escrito peças de teatro ultimamente.)

quinta-feira, março 11, 2010

dos pequeninos monstros quotidianos

Those who abhor violence refuse to admit they are already experiencing it, commiting it.
Those who lie in the arms of the "individual solution",
the "private odyssey", the "personal growth",
are the most conformist of all,
because to admit suffering
is to begin the creation of freedom.
Robin Morgan, "MONSTER"


Para as mulheres livres do meu país, as que nunca sofreram discriminações, não são vítimas, são diferentes, conseguiram o que têm pelo valor próprio e são, sobretudo são, tão femininas, ofereço este poema que queria meu.

Nós, as descontentes, continuamos procurando a revolução, a mudança de que todos falam, mas ninguém quer. A utopia, a liberdade, a condição da liberdade.

Madalena Barbosa, 1992

segunda-feira, março 08, 2010

nice way to start the 8th.*


by The Guerrilla Girls


Kathryn Bigelow, óscar de melhor realizadora e de melhor filme por The Hurt Locker. pode parecer um pormenor, mas hoje o mundo está um bocadinho melhor. I love you, Kong.

domingo, março 07, 2010

the anatomically correct Oscar


foto sacada em nndb


é gaja. é gira. é uma realizadora do caneco como se vê desde o primeiro filme. filma acção soberbamente e ai do estronço que diga que filma como um homem. e já há vinte anos que não podem dizer que é "a mulher do Cameron". tem tudo contra ela, portanto. chama-se Kathryn Bigelow. e vai ganhar.
(wishful thinking can't hurt.*)

extra ecclesiam nulla salvus


The Intelligence² Debate - Stephen Fry (Unedited)
Enviado por Xrunner17. - Televisão clássica online


why the Catholic Church is NOT a force for good in the world, por Stephen Fry. espírito. inteligência. classe. coragem. verdade. ao melhor brit style. e é por tudo isto que não quero pagar a visita do senhor Ratzinger, seja como líder religioso seja como líder de um estado soberano em visita oficial. a césar o que é de césar. e o Vaticano diz que não é césar — a ver se a gente acredita.

(se este homem não é um portento... I'll never stop being in love with him.)

quarta-feira, março 03, 2010

feliz com o petiz.

hoje ele serve-me francesinhas com regularidade, há um ano, como em outros quatro anteriores, servia-me quase diariamente, entre a sopa de penca e a costeleta ou os filetes. sabemos o suficiente para nos alegrarmos a cada reencontro, para o cumprimento caloroso, mas não muito mais do que é mais ou menos regra numa relação de mesa de café em que um está sentado e outro de pé. hoje o braço dele interpelou-me com um nome que eu nunca vira. e o nome escrito na pele foi uma vida que durou dois meses. está a fazer um ano. e um ano depois quis dizer-se a mim. e eu recebi e guardei no peito os olhos vermelhos que sorriam com o alívio de quem não engole o sal.

e depois eu fui e tu ficaste.

nem uma hora depois recebo o anúncio no telemóvel: ela já levou a epidural, é hoje. e a felicidade é da cor do dia, em que chove um azul forte de metais revelados pelo sol que às vezes se esforça. e estou aqui presente agora e a 300 quilómetros, imaginando a foto que adivinhava esperar-me quando ligasse a janela. é o segundo nascimento neste quarteto em que nada seria mais forte se o sangue nos assinasse. nestes momentos especialmente é-me claro até que ponto o que lhes enche a vida bate no meu peito, até que ponto o que me bate no peito bate nos delxs porque há amores que não podem ser senão correspondidos.

com dois meninos novos a navegar na cabeça, penso que não só me anima a felicidade de quem amo. também me anima que haja frutos com a sorte de nascer de certas árvores.

bem-vindo, puto!

[ah, e diz que estreio amanhã à noite, também. depois digo qualquer coisa por aqui, que agora preciso de dormir e há prioridades na vida. :)*]