quarta-feira, abril 25, 2007

Bom dia



... e livres habitamos a substância do tempo.

domingo, abril 22, 2007

espelho




I'll be your mirror






I'll be your mirror
Reflect what you are, in case you don't know
I'll be the wind, the rain and the sunset
The light on your door to show that you're home
When you think the night has seen your mind
That inside you're twisted and unkind
Let me stand to show that you are blind
Please put down your hands
'Cause I see you
I find it hard to believe you don't know
The beauty that you are
But if you don't let me be your eyes
A hand in your darkness, so you won't be afraid
When you think the night has seen your mind
That inside you're twisted and unkind
Let me stand to show that you are blind
Please put down your hands
'Cause I see you
I'll be your mirror

The Velvet Underground & Nico

sábado, abril 21, 2007

Polivalências

Foi a descoberta do dia. Aquela patilha que a banana tem no topo, que a tornou uma epifania para os inventores das latas de coca-cola e que foi lá colocada por, quem mais?, o senhor Jeová [foi em vão? eh pá, desculpem lá, o diabo seja cego surdo e mudo], afinal tem muito mais usos. Não garanto que tais utilizações tenham sido previstas pelo fabricante, que incorreu levemente no pecado capital do orgulho ao não se dignar a fazer um manual de instruções. Mas é verdade, a banana presta-se na perfeição, se manuseada com leveza e mestria, a calcar um charrito bem enrolado. Razão têm os holandeses que vendem t-shirts aos turistas: when God created the world, he was smoking.

sexta-feira, abril 20, 2007

Divergências significantes: a dissidência

Proposto para discursar em representação dos jovens no tradicional palanque montado no Rossio para as comemorações do 25 de Abril, o Ricardo Araújo Pereira foi vetado pela JCP e pelas organizações jovens da sua órbita. E graças à intransigência do lado que há trinta anos propõe e decide quem fala pelos jovens, pela primeira vez parece que não haverá intervenção dessa facção abstracta a que se chama "a juventude". Ora, o RAP representa o que de melhor a liberdade de pensamento pode produzir na esfera pública do entretenimento; teve um papel importantíssimo neste recente referendo de importância civilizacional, com o seu professor Marcelo; há uns anos, antes do boom fedorento, lembro-me bem de o ver no Herman Sic, de cravo na mão, cantando toda a letra do Portugal Ressuscitado; faz da cidadania activa uma forma de estar na vida e de, sem demagogias, ou melhor, sem merdas, pôr a render a sua visibilidade. Qual o seu grande defeito, pergunto eu? Ter sido, pretérito descomposto, militante comunista? É ele um traidor à causa, portanto? Não fizemos com cravos uma revolução democrática precisamente para podermos falar à vontade, pensar à vontade, gozar à vontade, intervir à vontade, criticar, mudar, desafiar à vontade? Que porra, hã? Não tem este pessoal vergonha na cara? Somos todos devedores do centralismo democrático, queres ver?


Falar nas comemorações como representante da juventude não é nenhuma condecoração. Mas neste momento tenho pena. Porque se o fosse, a minha, que fui oradora pela juventude há três vinte e cincos atrás, seria imediatamente devolvida à interjovem, à ecolojovem ou directamente à jcp. Com uma nota de condolências por tão triste figura.

quinta-feira, abril 19, 2007

Os pianos do corredor

De algum modo, e por mais que este blog esteja longe de ter qualquer tipo de agenda, sinto-me com vários posts em atraso. As maningâncias independentes, a campanha estatal que nos diz que os cortadores de relva e as vendedoras de jornais até são gente porreira, coitados, mas são todos um bocado burros - ou teriam sabido escolher melhor os percursos académicos e, quem sabe, chegar a ministros; a vigília pascal da zelosa CML frente ao cartaz dos Gatos no Marquês de Pombal, e por fim em cima dele; o Júlio César da Cornuncópia que já fui ver há três-quinze-dias, o Caimão que ainda vou ver outra vez antes de botar faladura. Enfim. Aguente-se. São os tais egos dos actores. Às vezes só consigo rir-me do “mundo real”, e falar sobre ele é o que menos me apetece. Aliás, para dizer a verdade, o que me apetecia mesmo neste momento era um beijo. Só que há momentos em que até tirar um curso de engenharia parece mais simples do que concretizar certos desejos.

Mas há uma coisa que entretanto não fica para trás, de tão merecedora de umas palavrinhas que é, e a publicidade institucional da 2 acabou de mo relembrar – sim, pois, a estas horas feita couve a olhar para a televisão no quarto de hotel, é o glamour do teatro, meus amigos. Adiante. Como diz o anúncio, o sucedâneo da defunta Festa da Música vai ter pianos e mais pianos e mais pianos. E mais uns quantos. E mais alguns pelos espaços de passagem do público, entre salas, entre concertos. Junto a cada um destes pianos vai estar um jovem pianista, com a tripla função de vigilante, animador e professor. Ou seja, tem de assegurar a integridade dos bichos; esclarecer dúvidas de quem a eles se dirige - práticas, teóricas, históricas, musicológicas, o que aparecer -, e eventualmente/certamente, tocar; estar disponível para fazer demonstrações de uma primeira aula de piano, a quem se mostrar interessado em experimentar.

Interessante, pensei eu, quando o meu puto pianista me disse que tinha sido convidada para essa função. Difícil, mas interessante, para os pianistas e para o público. Então e é razoavelmente bem-pago, não? Sim sim, claro, responde-me ela, ofereceram-me uma senha de almoço e uma t-shirt.

Quando parar num destes pianos, se por acaso o pianista-vigilante não tiver o entusiasmo de que está à espera, lembre-se de que a maioria dos convidados para esses lugares se recusou a fazê-lo. Caramba, trocar três horas de estudo por uma proposta que não é nada senão ofensiva e desonesta? Vão-se… enfim. Lembre-se portanto de que o pianista que tem à sua frente provavelmente viu dois ou três dias preciosos do seu trabalho virados do avesso porque, na maior das boas vontades, se propôs a fazer umas horitas e foi depois desesperadamente convidado a fazer muito mais. Talvez por mais um almoço. Ou uma sweater. Mais valia ir para o metro com um órgãozito de pilhas.

sábado, abril 14, 2007

Divergências significantes: o nervosismo

É a terceira carreira deste Dom João no São João. Pelo meio já houve o São Luiz, o Argentina de Roma e o Stabile de Turim. E mesmo assim, caraças, rásparta os bichos que continuam a roer as entranhas antes de mais uma estreia. Quando se trabalha com um encenador para quem a extrema exigência é a única forma de estar no teatro, quando, passado um ano, nada estagnou, pelo contrário, as dúvidas, os auto e hetero-questionamentos, a descoberta, se avolumam sem nunca se anularem, o que podia ser a rotineira reposição de um espectáculo acabado torna-se no preciosismo e na procura e no espremer de todo o sumo que nunca acaba numa obra-prima como é este texto do senhor Poquelin, vulgo Molière. Será mesmo nervoso miudinho? Ao fim de tanto tempo não tenho medo de falhar, não me parece que vá ter nenhuma branca no meio das tiradas epistolares da magoada Elvira, conheço o estrado onde nos movemos como a palma da mão e amo cada pedaço velho de madeira. E é nesta alturas que penso que aquilo que os franceses chamam le traq não é mais que a antecipação, a excitação infantil da exploração e da representação. Aiiii, que nervos! Aiiii, que vontade!!!

Não, não é a trabalhar para o palco que se encontra a felicidade, pelo contrário, a angústia é rainha. Mas é no palco que ela, disfarçada, cruel, subtil, desvenda muitas vezes o seu rosto e me enche o corpo de um incomparável formigueiro, de uma certeza de estar viva. Deve ser isto que separa uma profissão de uma vocação. Eu tenho a sorte de estar afundada na segunda, mau-grado as incertezas desta vida de saltimbanco [que para efeitos administrativos se traduz em trabalhador independente, cheio de deveres, mas com direitos nenhuns].

Tudo isto, enfim, para partilhar convosco a música - saída da cabeça emperucada do senhor Charpentier, há trezentos e poucos anos atrás - que recebe este navio a cada noite em que chega ao porto e as palmas das mãos de quem está na plateia nos dizem de sua justiça. E, claro, para pedir o indispensável: MANDEM-ME À MERDA, CARAGO!

Prologue - Ouvertu...

sexta-feira, abril 13, 2007

A banana de deus, marca reg.

Como prometido, aqui está o porquê da existência de deus da perspectiva de um dos arautos desta vaga de IDiotice. Vejam e aproveitem bem. Coisas destas, assim, reais e ao vivo, são experiências inolvidáveis. No fim, não se esqueçam de fechar a boca. Não vale a pena deslocar esses maxilares. Ei-lo, o pesadelo ateísta. Leides end gentelméns, the banaaana:



O que eu não percebo é como é que ele não percebe que está a dizer, quase concretamente, que o homem descende realmente do macaco, ou seja, que houve alguma evolução, por pouca que tenha sido, e que o nosso fabricante teve graves falhas de planeamento que nós temos tentado colmatar, nomeadamente pelo recurso à depilação e aos cremes de barbear. Porque, caramba, o seu a seu dono, se há deveras um animal para quem a banana foi feita expressamente, esse animal é necessariamente o macaco. Qual das espécies, as mais próximas ou as mais distantes de nós, evolutivamente falando, não é para aqui chamado; palpita-me que para estes senhores isso não é importante, os homens são os homens, os macacos são os macacos, zás-pás, vira-milho, e como o macaco gosta de banana, uhuuuu.

Claro que a minha mente perversa começou também a vaguear pela interrogação de para que outros pontos do corpo humano, orifícios e não só, poderá ter sido a banana concebida. É que assim de repente... quer dizer, há mais possibilidades. Se isto não está na Bíblia, no Corão ou no Talmude, como poderemos ter a certeza de que percebemos bem qual o uso que deus pretendia que déssemos à banana? E será o mesmo para todos? Procedimento chapa cinco, seja banana da Madeira, seja a chiquita, seja a do quintal das traseiras? Isto tem pano para mangas, afinal... filosoficamente falando, quer dizer.


E a propósito deste meu post de há umas semanas, acho uma certa graça ao apelido do senhor... Comfort. Bem a propósito. Eu não compreendo este tipo de conforto, mas enfim, se todos gostássemos de bananas, que seria dos pêssegos?...

quinta-feira, abril 12, 2007

Nota de pé de página

Isto é uma beleza de texto. E que bando de sentimentalões se reuniu na caixa de comentários, até refresca a alma... Permito-me apenas discordar do K. numa coisa. Não é ao contrário das outras coisas materiais que os livros têm o valor que lhes dá quem os avalia. Tirando o pão para a boca e o tecto sobre a cabeça, tudo o resto tem o valor que lhe dermos. Estou certa de que em algum livro muito antigo isto estará também escrito. E o contrário. E mais ou menos. Como a vida, têm espaço para muito, têm espaço para tudo de nós e mais aquilo que não sabemos que também somos. São um tesouro, como nos contos de piratas, mais valioso até. E textos assim também merecem um baú só para si.

domingo, abril 08, 2007

Então, boas páscoas a todos!


roubado ao Random Precision.

sexta-feira, abril 06, 2007

Post herméticó-deprimidó-pop

Este é mesmo só para mim. Bem sei que para depressão até está levezinha e ritmada. Mas não deixa de ser o que é.

Golden Brown.mp3


[suspiro da criança de dente doce a quem roubaram o pastel de nata e que não sabe quando surgirá a próxima pastelaria a sério numa rua cheia de panikes]


Ah, e para quem não saiba, a musiquinha é dos Stranglers
O humor é proibido, o ódio é legal.




Estes rapazes são a melhor coisa que aconteceu a este país nos últimos anos. Que tão simples e corajosamente rompam com as tradições do silêncio, da dissimulação, da fraqueza de vontade que nos caracterizam, é de um valor incalculável. Cidadania com maiúscula. Goste a sussurrante direita ou não goste.

terça-feira, abril 03, 2007

Mais um quarto de hotel




Acho que nunca fiquei neste... mas já fiquei no vizinho. Na recepção já não me dizem nada, conhece o hotel, não conhece?, sim sim, um sorriso e a chave. Mais fotogramas do Porto, de cá e de lá do vidro.

domingo, abril 01, 2007

O inferno são os domingos



O centro comercial foleiro que me abriram aqui à porta de casa é local de romaria. As velhotas sacam dos casacos de peles e vêm deslumbrar-se para as catacumbas da arena sacrificial. "Ai, que bem arranjado que eles têm isto!"

O sol do jardim, onde tantos dias opto por almoçar, foi-me hoje roubado pelo estaminé dos globos de ouro da sic, que faz barulho desde o início da tarde para meia-dúzia de bimbos pingados.

Ao meu lado na caixa multibanco onde faço o pagamento final para me livrar da sarna vulgarmente conhecida por TvCabo, um quarentão anafado e muito bem-posto olha-me de cima abaixo com o desdém do aristocrata obrigado a partilhar solo com a plebe. Ignoro. Mas tenho ouvidos, é uma chatice, e com a chegada do casalinho de filhos em plena exploração da puberdade, cai-me o queixo com a conversa que se passa ao meu lado. Triste bobo, o quarentão faz uma piada infantilóide para os miúdos, sabem que lá dentro está um velhinho deficiente a contar as notas, ohohohohoh? A muito custo consigo conter-me e não perguntar onde posso denunciar a fuga de um cota deficiente das ideias para o lado errado do ATM. O olhar de desdém, agora meu, é o meu único comentário, prolongado e descarado.


Adoro a casa maravilhosa onde vivo e tenho uns senhorios cinco estrelas. Mas que feliz que estou por ter ontem caçado uma casa linda, embora mais pequena, poucos quarteirões acima do Intendente. É que, caramba, há limites para a tolerância à vizinhança rasca.
Convergências significantes: a IDiotice

Sic transit gloria mundi. O texto aqui lincado é tão arrogantemente indigente que ou se contesta palavra por palavra ou se dá ao seu autor o nome que ele merece: IDiota.

Segundo este convicto IDiota, tudo na ciência é feito para justificar e solidificar a "crença" na evolução, muito bem. Nada como um bom advogado para nos alertar para a conspiração estabelecida entre Demócrito, Copérnico, Galileu e Darwin [o núcleo duro, que os colaboracionistas são inúmeros, cambada de hereges]. Como comunicaram entre eles, para tanta ciência retroactiva de adulação ao evolucionismo que surgiu nem há duzentos anos [espera, 200 parece-me demais para o total da idade da Terra, aposto que Darwin só foi apupado em Londres há 20 anos, e o resto são histórias da carochinha...] não sei, talvez um qualquer matusalém que a bíblia deixou que passasse incógnito tenha sido o mensageiro dos cientistas do demo, com a ajuda de uma máquina do tempo concebida em conjunto por Einstein e Da Vinci.

Mas o que me intriga realmente é isto: como chegou o insigne tribuno que assina este texto a essa "poirotiana" conclusão? Foi a irmã Lúcia que lhe disse, foi? Ou foi a Alexandra Solnado?


Mas idiotas... enfim, que fazer, eles existem, nem dEus nem a evolução conseguiram ainda evitá-lo. Que uma publicação on-line que se apresenta como "Ciência Hoje" decida dar visibilidade e consequente credibilidade a tamanha inanidade, isso sim, é o preocupante. Isso sim, é o significante. Isso sim, é o alerta.


Actualização
A "Ciência Hoje" parece ter retirado o texto. Aparentemente, os comentários chocados dos leitores e a demissão de Jorge Buescu do conselho científico que este texto espoletou serviram para alguma coisa. Às vezes ainda vale a pena não ficar calado...