sábado, junho 24, 2006


Praça dos Leões, 23 de Junho de 2006
Desenho de Cuba


Voltei cedo para casa...



... porque me faltava o martelo.


Rua Sá da Bandeira, Junho de 2006

Tiro o chapéu a quem quer que tenha tido esta brilhante ideia. Ópá, Sugai é genial, eheheh...

terça-feira, junho 20, 2006

Canção da noite

Eu vi um sapo, um grande sapo...

domingo, junho 18, 2006

Late again, Sam...


Praça da Batalha, Porto
Maio de 2006


Chega-se tarde a algo que já partiu ou que não se tem tempo de apreender, há sempre um angustioso atraso para a próxima paragem, pós-moderno toca-e-foge, sem objectivo que nos console o tic-tac interior. Rondamos as paragens dos guias que escolhemos, e tentamos entrar nas suas carruagens ou arrastá-los para as nossas. Por vezes parecemos conseguir, ou ficcionamos que conseguimos, outras deixam-nos à janela do desconsolo da incomunicação. Por vezes esperamos o comboio na paragem do autocarro. Por vezes a ficção irrealiza a carne e o osso e a realidade desfaz-se em perplexidades. Por vezes ansiamos por um destino que não desejamos, em vez de gozarmos bem a nossa rota. Por vezes descobrimos que já é tarde para viver e para morrer e encerramo-nos no purgatório televisivo de um hipermercado ou de um centro comercial.

Por vezes até vivemos. Mas quando isso acontece costumamos estar maravilhosamente distraídos.

domingo, junho 11, 2006

Não resisto...

Afinal, nada como uma boa anedota anti-clerical e inocente, para desatar acílios.

Uma freira repreende, de ameaçador dedo em riste, uma menina do colégio.
-As meninas que se portam mal vão para o inferno!
-E as freiras que se masturbam cheiram mal do dedo!
O que vale é que há um Chico - e um chorinho - para todos os momentos

Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita

Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando que, também, sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades

Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa

Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita careta pra engolir a transacção
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco

Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus

Chico Buarque/Francis Hyme
Anticonstitucionalissimamente
ou
Um governo quê?...


Almoço a cinco sob o sol da Cordoaria. Dois tripeiros, uma alface, dois galegos. A conversa, como as cerejas que apetece trincar só de as sentir penduradas na orelha, passeia-se entre gargalhadas e silêncios, entre o dentro e o fora, as emoções e o mundo. E no meio do tanto por que se passa quase sem se dar por ela, lá vem a pergunta/confirmação quase incrédula, "Mas aqui os homossexuais não podem casar, é?".

Reposta pronta, claro, cá deste lado: que não, que há cerca de um ano se conseguiu mudar o artigo 13 da Constituição, de forma a que a proibição da discriminação incluísse a orientação sexual e não apenas o género, mas que a lei do casamento civil continua anticonstitucionalmente discriminatória. Aliás - e para alguma coisa me deve ter servido brincar com o meu pai às palavras-centopeia - anticonstitucionalissimamente discriminatória. Oiço então a pergunta óbvia, que só os portugueses aparentemente não fazem: "Mas em Portugal não há um governo socialista?".

Pois... é a versão oficial, socialistas, dizem eles. E não sabes tu da missa o terço, meu caro amigo.

sábado, junho 10, 2006

Eu ouvi...

... um miúdo a levar uma galheta, em directo na Antena 1. O padre Acílio garante ao jornalista que não há agressões na Casa do Gaiato. Um leve gaguejar que indicia um desvio do foco de concentração, um som seco que o microfone ainda capta, e a frase continua, até que o jornalista atalhe, depois de meia dúzia de segundos de silenciosa estupefacção, "mas o senhor acabou de dar uma estalada na cara a um miúdo de seis anos, à minha frente!".

A criança, pasme-se, rondava o estaminé de máquinas e microfones onde o santo educador dava a sua entrevista. De facto, que futuro marginal e pecador esperaria este fedelho se não fosse prontamente posto no seu lugar? Que magnífico cristão se perderia, não fosse a pedagogia do senhor Acílio, por padre conhecido, e seus discípulos da obra do padre Américo, pendões da caridade dessa larga multinacional do amor que dá pelo nome de ICAR? É nestas alturas que dou graças ao sEnhor pela não legalização da adopção por casais homossexuais. É o que salva estes meninos, que crescerão bem e catolicamente, conhecerão a culpa e saberão que quem se porta mal merece castigo.

sexta-feira, junho 09, 2006

La sombra del Bandoneón



Vocês desculpem qualquer coisinha, mas provavelmente só quem já algum dia viveu no palco pode compreender até que ponto nada mais resta para dar quando um trabalho nos entra pelos poros e toma conta do coração. Este parece talhado nos céus de Buenos Aires, uma mesma jangada de loucos descendo o Río de la Plata, contra as traiçoeiras marés do tempo que parece encolher na mesma medida em que este nosso menino - de todos mas de duas pessoas em especial, João e Walter -Duende-Mor e Maestro Bandoneón-, vai crescendo e ganhando um rosto e uma forma que nos encanta a todos. É, não se pode dizer menos, uma felicidade estar aqui, no meio desta luz toda com que enchemos a sala de ensaios, tarde após tarde, duendes felizes procurando juntos a verdade que neste espectáculo nos espera.
La Sombra de María



Mi corazón cortado en quatro está -dicen- sepeliado en las quatro troneras de un billar robado. El que ahora llevo puesto se lo compré a una encorazonadora que tenía corazonería de viejo en un paisaje terraja, y vendía corazoncitos tristeros de baraja francesa y de conejo, de tatuaje de marinero con pereza, de rima de canción de cuna y de alcaucil. A mi, me puso uno que es de vista y no lastima, recortado del mandil de un bandoneonista; y con agujita de estaño y un hilo de humo castaño, me lo bordó sobre el vientre. Dijo que eso era lo que convenía para quien, como yo, soy una sombra María, y ya por sombra -solo sombra- seré sombra y seré virgen para siempre.

Lo dijo mientras cosía
y ya me lo acuerdo mal!


Horacio Ferrer

quinta-feira, junho 08, 2006


Palácio de Cristal, 6 de Junho de 2006

No ventre da minha cidade
um caminho que me relembre
um ramo que em três se reparta
um assombro que restolhe.

Um pouco de terra por maná
que não seque
que não suje;
que se entranhe nos sulcos húmidos dos dedos
nos vales das unhas
na sala primeira da pele
um cheiro de vida
um cheiro de estrume e sementeira.

Vidas secas que libertam lugar a um verde que o ocupa
um assombro que restolhe
um ramo que em três se reparta.

No ventre das minhas cidades
um caminho paralelo
um pouco de terra por maná
um trilho que me relembre
que estou inteira.

Uma terra que suja
entranha
espelho de mim
aqui
já.

terça-feira, junho 06, 2006

Chaplin


Fotografia de Rútilo

Pois é, mais um pó monte de pêlos cá de casa. A culpa é da Dalila, que tentou arrancar-lhe os olhos assim que ele entrou em casa da Truta Rodrigues. Nessa altura acabara de ser baptizado Gonçalinho e iniciava a recuperação do estado em que se encontrava quando apareceu desnorteado e aflito na Colina de São Gonçalo.


...


O ser humano sabe mesmo ser o mais reles dos macacos.

domingo, junho 04, 2006

Un bandoneón que mi tristeza tiene escrita...


Sala de ensaios, 3 de Junho de 2006
Fotografia de Manel, som de Walter H.



O que aí vem, nas sábias palavras do nosso encenador, será impróprio para cardíacos.

Porque ese niño no es niño, Jesus! Que es niña: niña ha nacido!